São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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Debate é última chance de conservadores

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

O primeiro-ministro britânico, John Major, jogou sua última cartada para tentar reverter o quadro negativo na campanha eleitoral: aceitou o desafio de debater na TV com o rival e líder das pesquisas, o trabalhista Tony Blair.
Essa decisão está sendo interpretada como um ato de desespero do líder dos conservadores, que estão no poder há 18 anos, para tentar vencer as eleições do dia 1º de maio.
Na campanha de 1992, o trabalhista Neil Kinnock desafiou Major para um debate, e ele respondeu: "Todo político que espera perder tenta esse truque, e o que espera vencer diz não". Mas, agora, com 26 pontos atrás na corrida pelos votos, vai tentar o truque.
"Isso é completamente incomum. Mostra o desespero dos conservadores", disse à Folha George Jones, especialista em governo britânico da London School of Economics.
O fato de Major ter mudado de opinião abre um precedente histórico no país. Será a primeira vez que dois candidatos a premiê debaterão na TV. O terceiro colocado nas pesquisas, o líder dos liberais-democratas, Paddy Ashdown, ficou de fora do debate.
O formato do programa terá o debate com Major e Blair durante 30 minutos e depois uma entrevista com Ashdown. O líder liberal-democrata não gostou e ameaça ir à Justiça.
Inicialmente, a rede de TV BBC propôs que o debate fosse entre os três, mas Major vetou. O que não faz muito sentido, dizem os seus opositores, até porque essa não é uma eleição presidencial.
O primeiro-ministro é o líder do partido com maioria de cadeiras na Câmara dos Comuns.
'Presidencialismo' "Eu pessoalmente lamento que ele tenha adotado essa posição de aceitar o debate, porque isso é uma característica de governo com sistema presidencialista", diz outro estudioso, Peter Dawson.
O grande problema do primeiro-ministro vai além de seus próprios defeitos e de seu governo -começou em 1990 sucedendo Margaret Thatcher, sendo confirmado no poder nas eleições de 1992. Ele é herdeiro de todas as más experiências sofridas pelos britânicos nesses 18 anos de governo conservador.
Isso explica, em parte, por que ele não consegue se recuperar em um momento em que a economia britânica vai tão bem. Os índices de desemprego, inflação e crescimento do país são os mais favoráveis dos últimos cinco anos.
O outro problema é a falta de popularidade de Major dentro do próprio partido: ele é malvisto pela ala esquerda e pela direita -ambos, cada um para seu lado, discordam de como ele conduz a posição britânica em relação à união monetária européia.
Para piorar a situação de Major, esta semana mais detalhes sobre o escândalo do "cash for questions" foi divulgado. Major teria sido informado de que um de seus vice-ministros, Tim Smith (Irlanda do Norte), recebeu dinheiro para fazer intervenções no Parlamento - conseguindo informação privilegiada para empresários- e deixou que ele continuasse no cargo.
Por fim, o último golpe contra os conservadores foi a perda do apoio do megaempresário Rupert Murdoch. No último dia 18, o "The Sun" (o tablóide diário mais vendido no país, cerca de 3,5 milhões de cópias) anunciava: "Sun Backs Blair" (Sun apóia Blair).

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