São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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Mestiços sofrem choque cultural

Filhos mestiços podem apresentar mais problemas na formação da personalidade do que os adotivos de etnia completamente diferente dos pais. Na opinião da psicóloga Marilza de Souza Martins, 52, integrante do AMMA Psique e Negritude -projeto de orientação psicológica para negros e vítimas de preconceito- casos assim são mais frequentes.
"Para falar dos filhos, é preciso primeiro entender a união dos pais. Muitas vezes a razão aparente do casamento é o amor, mas a realidade esconde uma perspectiva de ascensão social e valorização da ideologia do branqueamento", diz.
"A criança passa a viver esse conflito dentro de casa. Já nos casais brancos que adotam crianças negras, geralmente a diferença está clara, e eles já elaboraram a questão", conclui Marilza.
A mais forte
Outro fator bastante comum nessa situação é a negação da cultura de um dos pais. Segundo a psicóloga, a tendência é que a mais forte (branca e masculina) se imponha sobre as demais.
Comportamento arredio, angústia, agressividade e timidez exageradas são alguns sintomas que identificam crianças com problemas em relação à imagem racial.
Para amenizar, Marilza recomenda um acompanhamento psicológico precoce para a família. "Caso contrário, os problemas poderão se tornar um tormento na adolescência e uma doença crônica na fase adulta", conclui.
A psicologia também recomenda o máximo de sinceridade. Mas, no caso de adoção, esperar o momento certo para contar ao filho detalhes e diferenças raciais pode evitar traumas e aborrecimentos. "Mentiras não são toleráveis. A realidade vem à tona, o filho perceberá que os pais mentiram e poderá se tornar rebelde."

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