São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 1997 |
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Projeto de Osasco sofreu fraude no Senado
MARCIO AITH
Um parágrafo inteiro do projeto que autorizou a emissão de Osasco foi suprimido por duas vezes no "Diário do Senado Federal" no ano passado -março e junho. O texto suprimido, de autoria do senador Lauro Campos (PT-DF), relator do pedido de Osasco, obrigava a prefeitura a emitir títulos na exata quantia dos precatórios e a comprovar no BC (Banco Central) que os papéis estavam sendo vendidos exclusivamente para pagar condenações judiciais. Como o relatório de Campos foi publicado sem tal parágrafo, a prefeitura de Osasco emitiu mais títulos do que o necessário e os utilizou principalmente para financiar obras. Quando os erros foram corrigidos, em novembro passado, os títulos já haviam sido vendidos pelo Banco Vetor, contratado para colocá-los no mercado. Campos, em entrevista concedida à Folha, disse ter feito o que pôde para evitar os erros do Senado. O senador contou que pediu a republicação e requisitou abertura de investigação ao corregedor Romeu Tuma (PFL-SP). "Mas a requisição foi extraviada", disse. Segundo o senador, ter relatado o projeto de emissão de títulos de Osasco foi como ter pego bicho-do-pé: "A gente pega hoje e começa a coçar amanhã". * Folha - Quando e como o sr. percebeu que seu relatório havia sido publicado com uma omissão? Lauro Campos - Logo que publicado da primeira vez, em março do ano passado. Meus assessores me avisaram. Aquele parágrafo sintetizava minha orientação. Eu sou contra qualquer tipo de endividamento de Estados e municípios e decidi colocá-lo no projeto. Folha - O que é que o sr. fez? Campos - Eu avisei o presidente José Sarney (presidente do Congresso na época), que mandou republicá-lo. Só que a republicação também não trouxe o parágrafo. Só percebemos isso mais tarde. A terceira publicação foi feita em novembro passado. Folha - Só que já era tarde. Osasco já tinha emitido os títulos. O senhor sabia disso? Campos - Fiquei sabendo recentemente. Pedi por escrito ao senador Romeu Tuma que investigasse o responsável pela omissão. Ele disse que não recebeu meu requerimento. Folha - O ex-coordenador da Dívida Pública de São Paulo Wagner Ramos disse ter ido ao seu gabinete para negociar a emissão de Osasco. O senhor se lembra? Campos - Não. Algumas pessoas vieram, mas eu não me lembro dele. Eu me lembro do prefeito e do secretário da Fazenda. Folha - Por que o senhor foi nomeado relator do projeto de emissão de títulos de Osasco? Campos - Não sei, mas deveria ter desconfiado que coisa boa não era. Nunca me dão projetos grandes. Só me dão bicho-do-pé: você pega hoje e começa a coçar amanhã. Texto Anterior: Empresário não é encontrado Próximo Texto: Vamos mostrar que Motta errou, diz Nicéa Índice |
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