São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 1997
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Vamos mostrar que Motta errou, diz Nicéa

CLEUSA TURRA
SECRETÁRIA INTERINA DE REDAÇÃO

Nicéa Pitta, 50, mulher do prefeito de São Paulo, Celso Pitta (PPB), diz achar bom que o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) esteja longe do Brasil neste momento. Maluf está no exterior desde o dia 5 março.
"É importante que o dr. Paulo fique lá. É o momento que a gente precisa para mostrar à população que o ministro Sérgio Motta (Comunicações) estava errado dizendo que ele (Pitta) era um produto, que não tinha vontade própria."
Nicéa comemora a decisão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) de quebrar o sigilo bancário, fiscal e telefônico do prefeito. "Vai ficar provado mais do que nunca que ele não tem nada a temer. É um ponto favorável para a gente comemorar."
A seguir trechos da entrevista concedida à Folha, por telefone, de seu escritório em casa iniciada às 23h de quarta-feira. Nicéa disse que Pitta trabalhava ao seu lado naquele momento.
*
PAULO MALUF - "Coitado, ele liga diariamente. É importante que fique provado para a população, que se apague essa imagem de que o Pitta não tinha vontade própria, não tinha personalidade, tinha sempre o Maluf atrás dele.
Acho que é o momento mais importante do que é uma crise das mais dolorosas. Mas é uma crise que vai mostrar para a população que nós vamos sair vitoriosos e muito mais fortes, mas sozinhos.
Por isso, é importante que o dr. Paulo fique lá. A gente está pedindo para ele ficar lá."

AOS ELEITORES DE PITTA - "Às pessoas que lutaram, que apoiaram meu marido: tenham certeza de que tudo isso vai ser esclarecido a partir do momento em que a CPI chamar, permitir que ele vá lá. Ele já cansou de se oferecer, todos sabem disso.
Tenho certeza de que a população vai saber que ele vai sair muito vitorioso disso, porque, depois de todo esse sofrimento, virão as glórias. Nós temos a consciência tranquila."

CORTESIA DO VETOR - "Hoje, neste momento, eles (a CPI) colocaram esse carro (Tempra alugado pela Banco Vetor)... Acho que, quem está com má intenção, não assina uma nota de que utilizou o carro. E, se o nosso comportamento fosse o de fazer uso desse tipo de coisa, eu usaria carro da secretaria (das Finanças). Na época, eu tinha um Escort 87. Então foi pedido um carro, o aluguel de um carro.
Não foi dito que era cortesia. É uma questão de raciocinar. Se você estava com intenção de fazer esse tipo de coisa, não iria assinar nota do pedido de utilização do carro. Eu pegaria diretamente deles e pagaria. Quem está com intenção de fazer coisa errada, pelo menos faz uma coisa melhor.
Quando a gente entra para a vida pública, você se prepara para essas coisas. Estou preparada. Sei que não pára aí, sei que eles vão insistir em mais coisas."

CPI - "Acho que a CPI é importante porque está esclarecendo situações, já descobriu falhas, pessoas, funcionários que, obviamente, ninguém sabia do que se tratava. Isso acontece até dentro da casa da gente. Sou uma pessoa que está sempre de boa-fé com todo mundo, o Celso também. Pode acontecer e aconteceu."

COMEMORAÇÃO - "Para mim, o momento mais favorável de tudo foi agora à noite (anteontem), quando eles (a CPI) disseram que estão... nem sei o termo que se usa... abrir as contas (referência à quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico de Pitta).
Vai ficar provado mais do que nunca o quanto ele não tem nada a temer. Já que não o chamam para a CPI, já que não o deixam ir lá, então pelo menos isso. Para nós, é um ponto favorável para a gente comemorar."

IMPRENSA - "As notícias que infelizmente alguns colocam, como no caso das revistas "Veja" e "IstoÉ", é tudo mentira. As minhas amigas me contam que eles ligam perguntando como eu sou, se eu pinto o meu cabelo... Meu Deus, será que vou ter de andar nua? Será que sou obrigada a deixar meus fios de cabelo branco aparecerem?
Fiquei chocada com a atitude de fotógrafos que invadiram a minha sala. Tenho respeito por vocês. O Celso sabe disso. Milhões de pessoas me disseram: cuidado com a imprensa, cuidado, essa simpatia que você tem, esse carinho, um dia você vai se decepcionar. Mas aquele dia me chocou muito."

DEPRESSÃO - "Graças a Deus, não sofro de depressão. Morro de pena de quem sofre. Tenho amigas que passam por quadros depressivos. Sei o sofrimento que causa. Não sou uma pessoa deprimida, sou muito otimista.
Gosto de me cuidar. Não sou dependente de cabeleireiro nem de maquiador. Faço a minha maquiagem sozinha."

PITTA POR NICÉA - "Celso é muito família, muito carinhoso, muito bom filho, muito bom pai, bom marido.
Isso (o caso dos precatórios) está trazendo uma união maior, porque a gente está sentindo necessidade de um ser mais carinhoso com o outro. O ataque visa a todos, então a gente tenta ser mais solidário um com o outro, está havendo muito mais amor, mais carinho."

FILHOS - "Para eles é muito difícil, são jovens, não tiveram esse tipo de vida nunca, eles até são contra a conversa com jornalistas. Tento acalmá-los. Não se pode generalizar.
Tenho um trauma muito grande da "Veja" e da "IstoÉ" pela maldade que eles fazem. Essa capa da "Veja" ("O suspeito") com o Celso, é preconceituosa, é dolorosa. Tenho conversado muito com a mãe dele. Ela está acompanhando o noticiário. Estou ligando diariamente para tranquilizá-la."

PROJETOS - "Sempre na vida profissional eu me cobrei muito. Antes que alguém me cobre, já estou me cobrando.
Estou empenhada no meu projeto para as crianças de rua. Se não, elas vão ficar grandes, os pequenos vão crescendo e os outros vão chegando à idade de 20 anos sendo assassinados pelo tráfico.
Isso me angustia muito, porque, nas madrugadas, você sabe que muita criança está sendo estuprada, assassinada e não dá mais para deixar isso assim.
O projeto será instalado no Anhembi. A gente está querendo oferecer a eles o mesmo que a gente oferece para os nossos filhos. Estamos equipando a escola para que seja atrativa. Haverá monitoras que vão poder ajudá-los nas dúvidas, no reforço escolar.
A programação inclui o café da manhã, depois o banho, arrumar a caminha deles. O café será servido pelos próprios pais. Queremos profissionalizá-los."

TRABALHO - "Atendo no Casa (Centro de Apoio Social e Atendimento) parte da população que vai solicitar emprego, internação, tratamento de saúde para a família, aparelhos ortopédicos, visuais e auditivos.
No outro período estou trabalhando com as equipes do projeto dos meninos de rua. Graças a Deus, os empresários estão sendo muito solidários, estão me dando um atendimento muito bom.
Um grupo de amigas minhas decoradoras está trabalhando na decoração dos quartos das crianças. Ali nós vamos acomodar, logo de início, 600 crianças. Quero atingir também aquela parte do jovem, o pequeno infrator que vai para uma delegacia, para um presídio e que depois, infelizmente, se desvia para o submundo dos presídios grandes. O nosso secretário de Esporte, o Oscar, que é um amor, uma gracinha de pessoa, vai dar atendimento na área esportiva."

IDOSOS - "Paralelo a esse projeto de tirar as crianças das ruas, há um projeto para os idosos. A nossa cidade não tem um asilo adequado... É muito doloroso ver o idoso numa cama cheia de palha, urinado, sem higiene nenhuma.
O Celso está me dando uma área de 48 mil metros no bairro do Morumbi para que construa um local adequado para eles."

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