São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Projeto pretende provar que a Amazônia é o filtro do planeta

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Um projeto internacional que conta com a participação da Nasa e da União Européia (UE) poderá ajudar a provar que a Amazônia funciona como uma espécie de filtro do planeta.
O projeto poderá ainda ajudar a derrubar alguns dos modelos ecológicos relativos à Amazônia mais aceitos atualmente. Tais modelos dizem que a Amazônia é um ecossistema em equilíbrio e estável.
Batizado LBA (sigla em inglês para Experimento de Grande Escala na Biosfera-Atmosfera na Amazônia), o projeto terá liderança brasileira por meio de pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Vai contar ainda com a participação dos países amazônicos, de cinco países europeus e da Nasa, que coordena a participação dos EUA.
Em equilíbrio
Estudos recentes realizados pelo pesquisador do Inpa Antônio Nobre indicam que a Amazônia pode funcionar como uma espécie de filtro da atmosfera, absorvendo o gás carbônico que é emitido pela queima de combustíveis fósseis.
O modelo ecológico mais aceito atualmente é o que afirma que a Amazônia é um ecossistema em equilíbrio, quer dizer, a quantidade de carbono consumida pelas plantas, na forma de gás carbônico, se igualaria à quantidade liberada pela respiração. Assim, o balanço entre o que é consumido e o que é liberado seria zero.
O pesquisador mediu as trocas de gases entre a floresta e a atmosfera em torres semelhantes às que serão usadas no LBA.
As medidas foram feitas numa área a cerca de 82 km de Manaus.
Verificou que a floresta estava absorvendo muito mais gás carbônico do que emitindo.
Os resultados revelaram que, pelo menos na região estudada, a absorção de carbono chegava a 5,8 t por hectare por ano.
Um hectare corresponde a uma área de 10 mil metros quadrados, isto é, um quadrado de cem metros por cem metros.
"Isto significa que a Amazônia está ajudando a retirar da atmosfera parte da poluição que é lançada principalmente pelos países industrializados", diz Nobre.
Embora prefira não fazer extrapolações, o pesquisador diz que se a área total da Amazônia se comportar da mesma maneira do que a área estudada, a quantidade de gás carbônico absorvido pode chegar a 1 bilhão de toneladas por ano.
Como o homem
Segundo Nobre, haveria outra maneira de comprovar a hipótese de que a Amazônia estaria mesmo filtrando a atmosfera: medindo, no mesmo período, o diâmetro do tronco das árvores.
Medidas feitas por alguns pesquisadores mostraram que houve um aumento no diâmetro das árvores proporcional à absorção de gás carbônico.
O aumento do diâmetro também é capaz de demonstrar, segundo o pesquisador, que elas estão retendo o carbono que é absorvido.
"Hoje há um dogma segundo o qual acredita-se que a Amazônia seja um sistema estável", diz Nobre. Segundo o pesquisador, sendo estável, ela não poderia crescer.
Nobre diz que floresta pode ser comparada aos seres humanos. Da infância até a adolescência o homem cresce, mas, quando chega à idade adulta, pára de crescer.
Florestas estáveis teriam atingido a "idade adulta". Portanto não deveriam crescer mais.
"O que nossos estudos estão demonstrando é que, na verdade, a floresta está crescendo", diz.
E a Amazônia estaria usando o carbono que absorveu da atmosfera para crescer.
Segundo ele, o carbono retirado da atmosfera é fixado na forma de celulose.
Confirmação
O LBA, de acordo com Nobre, pode ajudar a confirmar estudos anteriores feitos por cientistas da Universidade de Brasília e do Inpe, publicados pela revista "Science" em 1995.
Naquela ocasião, os cientistas constataram que áreas não-mexidas da Amazônia estariam absorvendo maior quantidade de gás carbônico do que emitindo.
Para Nobre, ainda não há elementos suficientes que comprovem que há, de fato, retenção de gás carbônico em toda a floresta.
Segundo o pesquisador, o LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia) deverá ajudar a comprovar ou rejeitar a hipótese de que a Amazônia estaria minimizando o impacto causado pela liberação de gás carbônico com a queima de combustíveis fósseis.
E o gás carbônico, acreditam os pesquisadores, é um dos elementos que contruibuem para o aquecimento do planeta.

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