São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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Estilos de jornalismo

LUÍS NASSIF

Seria ridículo para o país e particularmente para a imprensa se, com a expectativa despertada na opinião pública, a CPI dos Precatórios passasse a provocar batalhas de ego entre jornalistas.
O ponto relevante da cobertura é a disputa entre estilos de fazer jornalismo. Não se tenha dúvidas de que a CPI dos Precatórios vai operar mudanças substanciais na forma de fazer jornalismo.
A certeza não advém do que é praticado hoje -ainda há uma dose excessiva de irrelevâncias e desrespeitos, de vaidades feridas-, mas da consciência sobre a necessidade da busca pela qualidade no jornalismo.
A cobertura do impeachment de Collor deu poder à imprensa, mas foi um mal para o bom jornalismo. Não havia nenhuma preocupação em desenvolver investigações paralelas, em elaborar raciocínios, em analisar outras hipóteses de investigação. Valia apenas o procedimento menor de puxar o saco do parlamentar que passasse informações e desancar o que passasse as informações para os concorrentes.
Em um determinado momento, os leitores amadureceram e jornais mais preocupados com a qualidade se deram conta da necessidade de dar o passo à frente, de trocar mão das manchetes irrelevantes e primárias pela cobertura mais sofisticada.
Mas havia sempre o receio de ultrapassar o Rubicão e perder para concorrentes que fincassem pé no estilo sensacionalista.
Mudanças
A CPI deve resolver esse dilema.
No início, houve e ainda há a repetição do processo usual de cobertura. E para quê? Muitas vezes, para apresentar uma cobertura do nível mental dessa pobre senadora gaúcha, que todo dia recebe listas de telefonemas (protegidas por sigilo constitucional) e repassa para a imprensa em bruto, ou do burocrata do Banco Central que falsifica cartas e confunde contas de juro e capital com senha para propina.
Há duas mudanças fundamentais em relação à cobertura do impeachment de Collor. A primeira é que hoje em dia há razoável consciência sobre o despropósito desse tipo de atitude. Na edição desta semana da "Carta Capital", aliás, Bob Fernandes escreve um clássico sobre o festival de mesquinharias que circunda essas coberturas.
A segunda é que os jornais que estão conseguindo ultrapassar a síndrome do escândalo e passaram a estruturar sua cobertura em linhas de raciocínio estão obtendo melhores resultados do que os que não conseguiram se libertar dessas quizilas brasilienses.
A cobertura dessa CPI vai comprovar que é possível fazer jornalismo de qualidade e, ao mesmo tempo, competitivo, sem golpes baixos, sem atropelar direitos individuais, sem praticar o "pau-de-arara" e sem enganar os leitores com falsas ênfases.
E, principalmente, ouvindo todos os lados -de Fábio Nahoum a Paulo Maluf.
Esclarecendo
A nota oficial do banqueiro Fábio Nahoum não desmente nenhuma informação sobre a reunião veiculada na coluna ou na reportagem da jornalista Mônica Bérgamo, da TV Bandeirantes -tendo quatro pessoas como testemunhas, incluindo o relator da CPI, Roberto Requião.
O desmentido é para versões da reunião.

Email: lnassif@uol.com.br

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