São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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Nacional Bairro foi a Viena do filme "Amadeus"

ARTHUR NESTROVSKI
DO ENVIADO ESPECIAL À HUNGRIA

No alto de uma colina em Buda, à beira do Danúbio, fica o bairro do Castelo, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1988. O bairro data do século 13, mas tem a aparência geral do barroco setecentista: não por acaso, foi aqui que Milos Forman escolheu filmar "Amadeus", na suposta Viena de fins do século 18. Quem viveu mesmo nesse distrito, por algumas semanas, foi Beethoven, no prédio do atual Museu de História da Música.
A peça de resistência do bairro, visível dia e noite de praticamente qualquer ponto à beira do rio, é o castelo propriamente dito, o maior prédio da Hungria, obra do imperador Carlos 6º e da imperatriz Maria Theresa.
É um imponente edifício barroco, com mais de 200 salas, abrigando hoje uma série de museus, incluindo a Galeria Nacional (pintura húngara, especialmente do século 19) e o Museu do Castelo (salão gótico, seção renascentista, homenagens ao rei renascentista Mathias Corvinus e sua terceira esposa, Beatriz de Aragón).
O castelo é grande o bastante para dar lugar, ainda, à Biblioteca Nacional, com quatro milhões de volumes.
A melhor maneira de chegar ao bairro é pegar o funicular, ao pé da ponte pênsil, outro cartão-postal da cidade. (Primeira ponte unindo Buda e Peste, foi construída em 1849, dinamitada pelos nazistas e reconstruída em 1949.) Chegando no alto, você tem o castelo à esquerda, com a estátua da águia Turul no portão -um pássaro mítico, que teria guiado os magiares até a Hungria, no século 9º.
À direita, fica o resto do bairro, com a enorme catedral de 700 anos. O Bastião dos Pescadores, de aparência românica, na verdade foi construído em 1901, data em que se completou a restauração da catedral. Dali se tem uma das vistas mais espetaculares de Peste, do outro lado do Danúbio, com o Parlamento se destacando à frente de uma expansão infinita de construções baixas -para todos os efeitos, uma cidade do século 19.
O melhor do bairro, no entanto, não são esses grandes prédios e monumentos, por mais impressionantes que sejam. O melhor é caminhar a esmo pelas ruazinhas medievais: Uri utca (pronuncia-se út-só), Országház utca, Fortuna utca e Táncsics (Tán-tzich) utca. Poucos lugares preservam um bairro como esse; o que é de surpreender, quando se pensa na tumultuada, para não dizer sangrenta, história da Hungria ao longo dos séculos.
Três recomendações: 1) na pequena Passagem Fortuna, em frente ao Hilton, há uma excelente livraria e café, Litea, com mapas e livros em inglês -não só de turismo, mas também história e literatura; 2) na praça ao lado da catedral (Szentháromság u. 7), fica o Ruszwurm Cukrászda, um café em funcionamento desde 1827, que tem alguns dos melhores doces da cidade (você tem idéia do que isso significa?); e 3) ainda no setor alimentar, os mais abastados podem fazer a festa no Alabárdos (Országház u. 2), onde, num cenário legítimo do século 15, pode-se saborear a "nouvelle cuisine" húngara, recomendada por médicos e gastrônomos.
Antes de deixar o bairro, caminhe pela Árpád sétány, no limite do penhasco. No fim da tarde, a "promenade" fica cheia de carrinhos de nenê, gente passeando, ou lendo jornal e vendo o pôr-do-sol. Dá vontade de não ir embora nunca; depois cai a noite, a gente sai de mansinho, prometendo a si mesmo voltar.

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