São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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Leia um miniconto de Örkény

ARTHUR NESTROVSKI
DO ENVIADO ESPECIAL

Miséria e esplendor da Hungria se combinam nas "Histórias de Um Minuto" do escritor István Örkény (1912-1979).
Descontadas as circunstâncias específicas, um dos relatos pode servir de emblema da imaginação e resistência, num país que sempre exigiu muito das duas coisas.
"Eu não sou feito de gelatina. Sei bem como tomar conta de mim. Mesmo levando em conta que longos anos de trabalho duro, o reconhecimento de minhas habilidades, meu futuro inteiro estavam, de fato, na balança, mantive a expressão impassível.
'Sou um artista de animais', eu disse.
'O que você faz?', perguntou o produtor.
'Imito o canto dos pássaros.'
'Desculpe', disse o produtor. 'Isto é coisa velha.'
'Coisa velha? O arrulhar dos pombos? O silvo do melro? O gorjeio da codorniz? O trilo do rouxinol?'
'Fora de moda', disse o produtor, abafando um bocejo.
'Até logo, então', respondi, com toda a cortesia de que fui capaz; virei as costas e saí voando pela janela aberta."
(AN)

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