São Paulo, terça-feira, 1 de abril de 1997
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Vídeo de tortura e morte leva PMs à prisão

DA REPORTAGEM LOCAL

Dez policiais militares estão presos desde quarta-feira por assassinato, tortura, agressões e extorsões praticados na favela Naval, em Diadema (Grande São Paulo).
A principal prova contra os policiais é uma fita de vídeo gravada por um cinegrafista amador. As imagens foram mostradas ontem à noite pelo "Jornal Nacional" da Rede Globo.
As gravações foram feitas durante a primeira semana de março entre as ruas Naval e Afonso Brás. A fita havia sido entregue na última quarta-feira ao promotor José Carlos Guillem Blat e a um capitão do 24º Batalhão da PM.
O crime aconteceu dia 7 de março. Josino e dois amigos estavam num Gol e foram parados pelos PMs. Após serem espancados, eles entraram no carro e, quando saíam, um dos policiais disparou duas vezes em direção ao Gol.
Josino morreu com um tiro na nuca. No dia do crime, os amigos da vítima, o vendedor Antônio Carlos Dias, 35, e o auxiliar de departamento pessoal Jefferson Sanches Caputi, 29, reconheceram seis PMs que participavam da "blitz".
Eles apontaram os soldados Otávio Lourenço Gambra e Nelson Soares da Silva Junior como os responsáveis pelo espancamento. Disseram não saber quem era o policial que havia atirado.
Os dois também acusaram de participar da blitz o cabo Ricardo Luiz Buzeto e os soldados Maurício Louzada, Demontier Figueiredo e Adriano de Oliveira.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o cabo Buzeto teria denunciado a violência dos colegas ao chefe do Comando de Policiamento do ABCD. A secretaria não informou se a denúncia do cabo ocorreu antes ou depois de a gravação do crime ser descoberta.
Ainda de acordo com a secretaria, os policiais envolvidos não tiveram, em momento nenhum, orientação para organizar uma blitz antidrogas. Eles haviam deixado o quartel em duplas para o patrulhamento de rotina e foram à favela Naval por conta própria.
O secretário da Segurança, José Afonso da Silva, não comentou o caso ontem. Sua assessoria informou que ele aguardará o pronunciamento do governador Mário Covas sobre as imagens.
Bom comportamento
No dia seguinte à morte de Josino, o tenente Neuton Santos Ramos, da 2ª Companhia do 24º Batalhão, disse que os policiais envolvidos no caso tinham "comportamento de bom para ótimo".
Ele afirmou que não havia nada que comprovasse que os PMs haviam atirado em Josino. O oficial afirmou que as vítimas da violência eram "suspeitos de envolvimento com drogas". Na época, o caso foi registrado como "averiguação de homicídio e lesão corporal".

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