São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Câmbio Negro faz a ponte Ceilândia/São Paulo

XICO SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL

Maior ídolo do rap do Distrito Federal, X, líder do grupo Câmbio Negro, mora atualmente em São Paulo, mas na hora de "pesquisar" o seu novo disco, não quis conversa: voltou à sua Ceilândia, para "envenenar" as idéias.
Na casa da mãe, cercado de cães, CDs e vinis por todos os lados, ele definiu nos últimos meses o repertório do disco, no prelo da gravadora paulistana Excelente.
O Câmbio Negro já forneceu ao hip-hop nacional dois clássicos da periferia: os discos "Sub-Raça" e "Diário de um Feto", lançados em 95 e 96, respectivamente, pela Discovery, selo de Brasília.
As letras de X são uma espécie de guia "turístico" pelas quebradas das cidades-satélites.
Ele reúne, nas suas linhas tortas, a violência barata de uma chuva de balas e o detalhe do cheiro de um "churrasquinho de gato", como registra na música "Ceilândia Revanche do Gueto" (95).
Nessa música, do disco "Diário de um Feto", surge a inusitada presença do som de um berimbau com uma levada de hip-hop.
Para X, hoje o rap pode ser considerada a mais importante influência musical e de comportamento da rapaziada das cidades-satélites.
"Cada vez que volto aqui tem um grupo novo tentando o mesmo caminho", diz o rapper do Câmbio Negro.
Tradição Por ser um lugar novo, fundado em 1960, Brasília e os seus arredores têm uma vantagem, segundo muitos rappers -a de não ter o predomínio histórico de nenhum ritmo tradicional.
Não é, por exemplo, a terra do samba ou do maracatu, o que desobriga, também na avaliação dos rappers, uma ligação mais umbilical com as chamadas "raízes".
Nada, mas nada mesmo contra os ritmos regionais, avisam os líderes do rap do DF. Seria somente um raciocínio para tentar explicar o fenômeno hip-hop no centro do país, advertem eles.
Para os grupos do DF, o rap das satélites é a trilha sonora da legião de miseráveis e forasteiros que buscam o sonho dos assentamentos e lotes que eram distribuídos gratuitamente em administrações anteriores.
Os grupos ligados ao movimento hip-hop acham que chegou a vez das cidades-satélites no novo mapa musical deste fim de século.
Segundo eles, o Plano Piloto (o lado rico de Brasília) já deu muita coisa nos anos 80, como o rock'n'roll da Legião Urbana e uma série de outras bandas.
(XS)

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