São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Jac Leirner devolve seus cartões

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A artista plástica paulistana Jac Leirner é de poucas palavras, como ela mesmo avisa, antes de falar sobre seu novo trabalho.
Mas é também de muitos detalhes, como será possível observar a partir de amanhã na galeria Camargo Vilaça, onde ela inaugura a mostra "Foi um Prazer", com trabalhos realizados com os cartões de visita que coletou durante cerca de dez anos.
A mostra terá duas outras versões. Uma vai para Nova York, em abril, para uma individual na galeria Lelong. A outra vai para a bienal de Veneza, para onde ela vai, em junho, como a representante oficial do Brasil no evento, ao lado do artista carioca Waltercio Caldas.
Há dez anos de sua individual "Os Cem", na Petite Galerie, no Rio, muita coisa mudou na vida de Jac Leiner. A artista casou, teve um filho, mudou mesmo.
Muita coisa também permaneceu, como a paciência e a utilização de materiais contaminados pelo uso, como eram as notas de cem cruzeiros, os cinzeiros de avião, as sacolas plásticas.
Todos esses materiais Jac Leirner tem utilizado em trabalhos expostos nos mais importante eventos de arte do mundo, como a Documenta de Kassel e as bienais de São Paulo e Veneza, além de individuais na Europa e nos EUA.
Segundo Leirner, porém, toda essa repercussão internacional não chega até ela. "Se existe uma expectativa em relação ao meu trabalho, ela não chega até mim. Gostaria que chegasse, mas quase não existe um diálogo", disse.
O que resta é uma expectativa sua para que esses seus objetos, repetitivos, encontrem seu novo lugar. "Eu sempre espero que as coisas pertençam realmente ao mundo, e isso gera uma expectativa. Espero que elas saiam do ateliê, saiam da galeria. Procuro encontrar um lugar para as coisas que não têm.", disse.
Agora chegou a vez de centenas de cartões de visita, dados por curadores, artistas, diretores de museus, pessoas da área.
Mas colocá-los lado a lado, em um situação de igualdade que eles não têm no mundo em que circulam, não significa para a artista um juízo de valor sobre o circuito das artes e o tráfico de influências que ele implica. Segundo Leirner, nem sequer o nome "Foi um Prazer" é uma ironia.
"A intenção do nome não era a ironia, que o trabalho já carrega. Ele já chegou a se chamar 'Aquarelas' por esse caráter delicado de tensão entre cores e elementos. E também por ser leve, como um desenho. A intenção do novo nome é de humor e delicadeza. Eu acho que é um nome bem-humorado para um trabalho formalmente tão linear. É cheio de curvas."

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