São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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Motta ataca a Igreja, Covas, ministros, o FMI, e a França

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Sérgio Motta (Comunicações) disparou ontem mais uma vez sua metralhadora verbal.
Durante cinco horas de explanação sobre telecomunicações para jornalistas, Motta intercalou críticas contra a Igreja, a equipe econômica, o governador Mário Covas (PSDB-SP), o PT, o FMI, a França e a reforma administrativa, entre outros.
O ministro começou sua palestra, no Centro de Treinamento da Telebrás, defendendo o governo Fernando Henrique Cardoso. Ao defender as privatizações, Motta criticou duramente a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e d. Luciano Mendes de Almeida, ex-presidente da entidade e atual arcebispo de Mariana (MG).
"Precisa manter a Vale (do Rio Doce) por quê? Para dar dinheiro para alguns municípios? Para a CNBB e o d. Luciano receberem a sua graninha?", disse o ministro.
Maluf
Explicando a crítica ao final do encontro, Motta disse que a CNBB recebe recursos da Vale e por isso seria contra a privatização. Segundo ele, o presidente FHC é o autor original da crítica à CNBB.
As críticas a Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, surgiram quando ele elogiava um outro tucano, o governador Mário Covas (SP). Motta fazia referências aos programas habitacionais de São Paulo quando disse que o Cingapura -programa de verticalização de favelas de Maluf- era "ficção"
"Maluf é uma tragédia nacional. Sérgio Motta tinha razão. Disse que a prefeitura estava quebrada e estava. Que o Cingapura era uma ficção, fechou. Que o PAS (programa de saúde pública) ia parar, parou. Que as obras iam parar, pararam", disse o ministro.
Motta também mirou o PT. "O PT é o cúmulo do reacionarismo. O PT não é democrático. Eles deveriam ler um pouco. Eles só lêem livros socialistas."
O ministro não poupou nem os aliados do governo FHC. Depois de ter elogiado Covas, disparou críticas ao governador ao comentar que alguns episódios que acontecem no Brasil o envergonham.
Citando o caso de tortura e morte de pessoas patrocinados por policiais militares de São Paulo, Motta disse que o episódio deveria ser tratado com mais rigor.
"Eu acho que o homem público tem de ter indignação. Eu, por mim, tinha demitido todo mundo", afirmou o ministro, contrapondo a decisão de Covas de manter a cúpula da polícia paulista.
As críticas à equipe econômica aconteceram por duas vezes. A primeira foi quando anunciou que na próxima semana haverá mudanças nas alíquotas de importação para produtos da área de telecomunicações. "Na minha área, tem uma política de alíquotas (de importação) equivocada", disse.
Malan, Kandir e Moreira
Ao comentar que o órgão regulador do setor de telecomunicações terá receita própria, Motta aproveitou para cutucar os ministros responsáveis pelo cofre do governo, Pedro Malan (Fazenda) e Antônio kandir (Planejamento). "Eu sou feliz porque não dependo do Kandir e do Malan."
Motta também censurou o teto de R$ 10,8 mil para salários do setor público estipulado na proposta de reforma administrativa, cujo relator é o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ), aliado do Palácio do Planalto.
"(O teto de) R$ 10,8 mil é um escândalo. Um escárnio para a população brasileira", condenou.
Motta também apontou sua metralhadora para fora do país, ao comentar o programa de privatização do setor de telecomunicações brasileiro. O ministro chamou a estatal France Telecom de "paquiderme burocrático" e o Estado francês de "absolutamente burocratizado".
Depois, disse que tem "raiva" do FMI (Fundo Monetário Internacional) por não concordar com o conceito de endividamento adotado pelo organismo.
Planalto
O porta-voz da Presidência afirmou, no início da noite de ontem, que o presidente Fernando Henrique Cardoso "não tem conhecimento das declarações do ministro Sérgio Motta".

Leia mais sobre as declarações de Motta a respeito de Covas no caderno Cotidiano

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