São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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FHC cede e mantém privilégio na reforma

DENISE MADUEÑO
AUGUSTO GAZIR

AUGUSTO GAZIR; DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com dificuldade de aprovar emenda, presidente libera negociação e acaba com teto de R$ 10,8 mil na prática

O governo cedeu às pressões e vai permitir acúmulo de salário e aposentadoria no serviço público, incluindo parlamentares, governadores e juízes.
O acordo vai acabar, na prática, com o teto de R$ 10,8 mil estabelecido na emenda de reforma administrativa.
Com a dificuldade de votar o projeto ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso mudou o tom da conversa com os deputados. Anteontem, ele havia ameaçado demitir 50 mil servidores caso a Câmara rejeitasse o teto.
Ontem, autorizou a negociação da mudança no projeto. O acordo foi promovido pelo líder do governo na Câmara, Benito Gama (PFL-BA), e pelos ministros Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) e Sérgio Motta (Comunicações).
Recuo
"Que houve recuo, houve. O teto era justo, mas a nossa avaliação era que a emenda não seria aprovada", afirmou o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE),
Sem o acordo, o governo constatou que tinha apenas 300 votos, 8 a menos que o mínimo necessário para aprovar a emenda.
As dissidências eram generalizadas nos partidos da base de apoio do governo -PFL, PMDB, PSDB, PPB e PTB.
Com a desistência de manter o texto do relator, Moreira Franco (PMDB-RJ), a Câmara iniciou ontem a votação da emenda da reforma. A estratégia era votar ontem o texto básico da reforma.
O texto do acordo sobre o teto e os destaques que podem alterar partes do projeto seriam votados na próxima quarta-feira.
Termos do acordo
A nova redação vai permitir o acúmulo de salário e uma única aposentadoria, mesmo que a soma seja superior ao teto de R$ 10,8 mil. Não há limite para o valor da aposentadoria.
Por exemplo, um servidor que receber o teto salarial de R$ 10,8 mil e tem ainda uma aposentadoria de igual valor, vai receber por mês R$ 21,6 mil.
A regra vale para os atuais servidores que acumulam aposentadoria e salário e para quem se aposentar até a promulgação da lei.
Quem se aposentar após a data de promulgação ficará sujeito ao teto de R$ 10,8 mil. Depois de votado em dois turnos pela Câmara, o projeto tem que ser votado pelo Senado. Só na Câmara, a emenda tramita há dois anos.
Reação
Os deputados aposentados, maior foco de resistência para votação, comemoraram a decisão.
"O presidente concordou com o acordo", anunciou eufórico o deputado Nilson Gibson (PSB-PE) no plenário da Câmara.
A oposição protestou. "Essa reforma trocou o seis por meia dúzia", disse o deputado José Genoino (PT-SP).
"O principal argumento do governo para votar a reforma era acabar com privilégios. A primeira coisa que será mantida é justamente o privilégio de quem vai votar a lei", afirmou o deputado Paulo Bernardo (PT-PR).
Custos
O governo não sabe a economia que poderá fazer com a aprovação da reforma. No entanto, a aposentadoria acima do teto vai aumentar em R$ 32 milhões por mês os gastos com servidores do Poder Executivo, segundo dados do Ministério do Planejamento.
"O valor foi considerado uma merreca, uma pataca pelo ministro Motta", disse Inocêncio.

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