São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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PM mata pai e irmão para vingar soldado

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara recebeu ontem mais uma denúncia de assassinato e tortura cometida por policiais militares contra civis.
O crime ocorreu em Dianópolis (TO), município a 700 km de Brasília, na tarde de sexta-feira passada, 28 de março.
Segundo testemunhas, o PM Francisco de Assis, que estava à paisana, envolveu-se em uma briga com Vilmar Anastácio Júnior, 25, em um bar e teria disparado dois tiros contra o rapaz, no braço e no peito.
Em seguida, Wagner Anastácio, 27, irmão de Júnior, teria atacado o policial para defender o irmão, tomado o revólver e disparado dois tiros contra o PM, que morreu na hora.
Wagner levou o irmão ao único pronto-socorro de Dianópolis e contou o ocorrido aos médicos que estavam de plantão. Enquanto Júnior era socorrido, Wagner foi algemado na porta do PS e colocado em um carro da PM.
"Todos os médicos que estavam de plantão viram Wagner sendo algemado e levado pela PM. Ninguém acreditava que eles pudessem cometer tamanha barbaridade, porque havia muitas testemunhas. Se acontecesse alguma coisa a Wagner, os PM seriam responsáveis", disse o médico Jefferson Carvalho, que era o chefe de plantão do pronto-socorro.
Entretanto, 30 minutos depois, Wagner deu entrada no pronto-socorro já morto, com dois tiros (no peito e na cabeça) e vários hematomas.
O pai dos rapazes, Vilmar Anastácio, 49, chegou ao PS cerca de duas horas depois, para reconhecer Wagner. Mas antes de fazer o reconhecimento foi algemado e espancado na porta do PS, na frente de médicos e pacientes.
"Ele gritava que só queria ver seu filho, mas mesmo assim foi conduzido para o carro policial", afirmou Carvalho.
O mesmo carro da PM que levou Anastácio retornou ao PS seis horas depois e entregou o corpo do pai dos rapazes com um tiro na cabeça, outro no tórax e hematomas.
Anastácio era proprietário de um supermercado e fazendas na região. Ele tinha passagem pela polícia, mas os filhos não.
Enterros
Wagner e Anastácio foram enterrados no sábado, e Júnior foi transferido para um hospital em Barreiras (BA), que fica a 150 km de Dianópolis e é a maior cidade da região. Seu estado continuava grave. Ele ainda corre risco de vida e não há data prevista para a alta.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara envia hoje ofício à procuradora de Justiça do Tocantins, Marilena de Oliveira, e ao secretário da Justiça e Segurança Pública do Estado, general Athos de Farias, cobrando o afastamento imediato dos envolvidos.
"O que ocorreu em Dianópolis é tão grave quanto o ocorrido em Diadema (Grande SP). A única diferença é que os crimes de Dianópolis não foram filmados, embora tenha sido testemunhado por médicos e pacientes do pronto-socorro", diz o ofício, assinado pelo deputado Pedro Wilson (PT-GO), presidente da comissão.

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