São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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Grupos rivais disputam poder no comando da PM

RICARDO FELTRIN e
MARCELO GODOY

RICARDO FELTRIN; MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Oficiais da Polícia Militar de São Paulo estão envolvidos em uma feroz disputa pelo poder dentro da corporação. Na análise do governo, esse é um dos motivos que estariam levando a PM a divulgar informações erradas ou omiti-las da Secretaria da Segurança Pública e do Palácio dos Bandeirantes.
Um grupo quer a queda do atual comandante-geral da PM, Claudionor Lisboa. Outro grupo, enfraquecido, tenta mantê-lo.
A divulgação da fita de vídeo com a violenta ação da PM reanimou o grupo rival, que tem entre seus principais líderes o coronel Edilberto Ferrarini.
Em setembro do ano passado ocorreu a primeira tentativa para "queimar" Lisboa.
Para isso, o grupo se apoiou nas acusações feitas pelo garçom Abelar Rodrigues Pereira. Ele afirmava ter participado de assaltos com Ricardo Lisboa, filho do comandante. Ricardo sempre negou as acusações e nunca foi reconhecido pelas vítimas de Pereira.
No entanto, durante a investigação, oficiais da PM divulgaram as acusações para deputados inimigos de Lisboa antes mesmo que elas tivessem sido completadas.
Lisboa sofre ataques do oficialato da PM desde sua indicação, em janeiro de 95.
O comandante-geral só pode ser um dos 51 coronéis da ativa.
Eles são "ranqueados" de acordo com três critérios: 1º) Objetivo - é feito de acordo com o tempo de serviço do coronel na corporação; 2º) Subjetivo - o grau de liderança do oficial dentro de seu grupo; 3º) Político - o oficial em questão deve ter afinidade ideológica com a política da Secretaria da Segurança.
Na lista de 51 nomes avaliados por assessores de Afonso da Silva em dezembro de 1994, Claudionor Lisboa estava em 31º.
Ele foi escolhido quase que exclusivamente pelo último critério -o político.
Desobediência sistemática
Boa parte dos oficiais desses dois grupos têm, no entanto, um desejo em comum: a demissão de Afonso da Silva, chamado de "fraco" e "incompetente" em reuniões no Clube de Oficiais da PM.
Nesses encontros, o secretário e alguns oficiais são atacados, por exemplo, por causa do Proar (programa que afasta PMs que matam, para que sejam submetidos a tratamento psicológico).
Num desses encontros de coronéis, o grupo rival tinha tanta certeza da queda da cúpula da Segurança Pública que chegou a elaborar uma lista com os nomes dos novos oficiais que ocupariam os principais comandos da PM.
Os líderes do movimento chegaram a avisar aos escolhidos -para que se preparassem para assumir.
Além disso, ordens de Afonso da Silva vêm sendo sistematicamente desobedecidas pela corporação. Exemplo: no ano passado, portaria sua proibiu que qualquer oficial participassem de programas de TV durante operações policiais.
Essa ordem da secretaria não é obedecida até hoje.

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