São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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Manifestantes cercam DP e xingam PMs

DA REPORTAGEM LOCAL

Durante o depoimento dos acusados, pelo menos mil pessoas cercaram a delegacia, exigindo justiça. A maioria dos manifestantes era de moradores da favela Naval.
Dezenas de faixas com frases contra os policiais eram carregados pelos manifestantes. Uma série delas trazia a mensagem: "Pena de morte para marginais fardados". O principal alvo era o soldado Otávio Lourenço Gambra, o Rambo, que teria dado o tiro que matou Mário José Josino.
O clima ficou mais tenso depois das 17h, quando o advogado de Rambo, Gamalier Corrêa, saiu da delegacia. Os manifestantes gritavam "Lincha, lincha", e ele precisou de proteção policial.
"O Rambo matou um trabalhador e precisa ser punido. Se depender de mim, a gente invade essa delegacia e lincha esse safado", disse o mecânico Paulo Luiz Cardoso, 19, morador da favela Naval, que conhecia Josino.
Tapa no rosto
Entre os manifestantes, uma das mais revoltadas era a dona-de-casa Lídia Kobenik, 40, mãe do montador Cristiano Kobenik, 20.
Cristiano foi agredido pelos mesmos policiais no último dia 3. Ele é a primeira pessoa que aparece apanhando nas imagens mostradas na Rede Globo.
"Meu filho nunca fez mal a ninguém, não podia apanhar daquele jeito. Aquele tapa doeu mais em mim do que nele."
Lídia disse que seu filho está com vergonha de ir trabalhar porque sua imagem levando um tapa no rosto foi repetida dezenas de vezes na televisão.
Ela carregava uma faixa com os dizeres: "Bonfim, marginal fardado. As pancadas que você deu no meu filho você vai pagar em dobro, seu crápula bandido". Bonfim é o soldado Rogério Neri Bonfim, que teria agredido Cristiano.
O homem que teve os pneus de seu Fusca furados pelos policiais também estava na manifestação. "Eles são uns safados. Sou inocente, não estava fazendo nada errado, e eles ainda furaram meus pneus. Eles merecem morrer", disse o homem, que se identificou como Zequinha.
Os cerca de mil manifestantes usavam gritos de guerra típicos de partidas de futebol. Um dos mais ouvidos era "Cadê Rambo, cadê Rambo".
Tensão
O momento de maior tensão ocorreu na saída dos policiais acusados. Eles deixaram a delegacia às 18h40, dez minutos depois do início da forte chuva de verão que atingiu Diadema.
A multidão que cercava o ônibus da Polícia Militar atirou pedras e latas contra as janelas. Na frente, seguiam como batedores quatro camionetes da PM.
Para abrir caminho, os policiais se valeram de ameaças. Alguns apontaram armas para a população. Outros, o cassetete. A gritaria era geral.
Pelo menos dez pessoas que participavam da manifestação contra os policiais acusados se feriram levemente na aglomeração, com escoriações nos braços e pernas.

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