São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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Covas e secretário são enganados de novo

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas, e o secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva, foram enganados mais uma vez pela Polícia Militar com relação às torturas e um assassinato de civis em Diadema.
Anteontem, durante a entrevista coletiva em que Covas pediu desculpas à população, o comandante da PM, coronel Claudionor Lisboa, que tinha informações erradas, afirmou que dez PMs estavam presos (nove no 2º Batalhão de Choque e um no 24º Batalhão).
No 24º (Diadema), segundo Lisboa, estaria preso o cabo Ricardo Luiz Buzeto, que participou das sessões de tortura, mas denunciou os companheiros. Ele teria ficado lá por questões de segurança.
Baseado nas informações de Lisboa, Covas confirmou, durante a entrevista, que dez policiais estavam presos. No entanto, Buzeto está foragido desde anteontem, quando teve sua prisão temporária decretada. A informação caiu como uma bomba nos gabinetes de Covas e Afonso da Silva, que ficaram irritadíssimos.
Segundo o promotor José Carlos Blat, o cabo, que ficou preso apenas um dia, teve a prisão administrativa revogada na última quinta-feira pelo tenente-coronel Pedro Pereira Matheus, comandante do 24º Batalhão. Foi Matheus quem informou anteontem a Lisboa que Buzeto estava preso.
Por causa da mentira e do constrangimento que passou perante Covas e Afonso da Silva, Lisboa determinou ontem à tarde a prisão administrativa de Matheus. Foi aberto um inquérito policial-militar para investigar o caso.
A Folha apurou que o desencontro de informações com relação ao episódio envolvendo o cabo Buzeto deverá ser um agravante que pode culminar no afastamento de mais comandantes do PM.
Fita
O primeiro episódio que criou constrangimento entre o governador e o secretário da Segurança foi o fato de eles ficarem sabendo da existência da fita de vídeo com as cenas de tortura somente pela televisão. Por esse motivo, foi determinado o afastamento de três comandantes e um subcomandante.
No entanto, a Folha apurou que o alto comando da PM sabia com antecedência, de pelo menos 15 dias, que a fita existia.
Entre os que sabiam, estão o coronel Coji Yamaguita, que estava comandando o CPM (Comando de Policiamento Metropolitano), o coronel Carlos Alberto da Costa, chefe de Estado Maior, o próprio comandante-geral, coronel Lisboa, que apenas não conhecia todo o conteúdo do vídeo.

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