São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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Quadrinhos fincam o pé no misticismo

HEINAR MARACY
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Sandman" morreu, mas o misticismo continua em alta nos quadrinhos.
Nos velhos tempos, um personagem místico era aquele que fazia gestos hipnóticos, possuía o "Olho de Agamoto" ou o "Cetro de Ra" e proferia encantamentos a torto e a direito.
Quadrinhos místicos dos dias de hoje misturam pregadores com superpoderes, anjos, alienígenas, expansão da consciência, espíritos vingativos, Freud, Jung e Reich.
A primeira a descobrir o filão foi a DC Comics, a mesma que chamou Neil Gaiman para criar "Sandman", gibi que, junto com "Hellraiser", de Jamie Delano, e o "Monstro do Pântano", de Alan Moore, deu origem à chamada onda de "terror gótico".
Hoje a maioria dos títulos do selo Vertigo -linha adulta da DC- tem um pé no misticismo.
Como sucessora direta de "Sandman" foi lançada a revista "The Dreaming" (O Sonhar), com histórias fechadas de três ou quatro capítulos e alto grau de componentes mágicos e arquetípicos. As histórias são apresentadas pelos irmãos Caim e Abel e têm autores e artistas variados.
O vínculo entre as histórias é Sonhar e seus habitantes, permanentes ou temporários. Uma delas mostra os delírios de uma mulher em coma após sofrer um acidente minutos antes de seu casamento.
Se "Sandman" era o terror gótico, "House of Mistery" é o terror grunge. Criada por Steven T. Seagle e Teddy Kristiansen, a história é ambientada em Seattle.
Rain é uma jovem poetisa sem-teto que encontra um bando de espíritos em uma casa abandonada. Eles formam um tribunal cujo objetivo é julgar os mistérios que se escondem por trás de nossos corações.
Ela acaba servindo de testemunha para os julgamentos, que não poupam nem seu amante, um clone (no sentido figurado) de Kurt Cobain. O traço de Kristiansen é totalmente europeu, sujo e duro, bem grunge.
Fãs de Paulo Coelho também têm seu cantinho no universo Vertigo. "Seekers into the Mistery" é a mais nova epopéia de J. M. DeMatteis, o autor de quadrinhos mais hippie da atualidade.
Uma mistura de "A Profecia Celestina" com "Arquivo X", "Seekers" conta a peregrinação de Lucas Hart, autor de roteiros de Hollywood que encontra o caminho da iluminação por meio de "experiências místicas" e acaba descobrindo que anjos, gnomos e aliens são a mesma coisa.
Quem prefere uma atitude menos contemplativa diante do desconhecido não pode perder "The Invisibles", de Grant Morrison (autor de Arkham Asylum e Doom Patrol). Os tais invisíveis são um grupo guerrilheiro que têm como objetivo levar a humanidade a um novo patamar de consciência.
A história gira em torno das aventuras de uma "célula" composta por dois agentes ingleses, uma ex-policial negra americana, uma ruiva sensitiva e (pasme) uma drag-queen carioca, Lord Fanny.
Morrison, por sinal, vem há tempos arregimentando uma legião de fãs fascinados por suas histórias cheias de citações esotéricas. Existem sites na Internet a seu respeito e a seção de cartas de "The Invisibles" é um caso à parte.
Alguns meses atrás, o autor chegou a ensinar a seus leitores como realizar um pequeno ritual de magia para aumentar as vendas da revista.
Parece que deu certo. "The Invisibles" entrou em sua segunda fase no começo deste ano. E seus cinco primeiros números já foram lançados em edição encadernada.

Onde encontrar: Devir Livraria (011/242-8200)

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