São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Soldados dizem querer fim do militarismo

DA REPORTAGEM LOCAL

Policiais militares entrevistados pela Folha no centro de São Paulo mostraram descontentamento com a estrutura militar da polícia e com a rigidez dos comandos. Eles não quiseram se identificar porque podem sofrer punições.
"Todo mundo está torcendo para acabar com esse militarismo. Enquanto ficar usando coturno e batendo continência vai ser essa porcaria", disse o sargento O., que está na PM desde 86. "Espero que aconteça alguma mudança grande, e tem que ser agora", disse.
O soldado A., 33, tem opinião semelhante. "O comando não apóia a gente. Chega no batalhão, recebe a ordem de serviço e vai todo mundo para a rua. Nunca perguntam se você tem problema pessoal."
A. já sofreu na pele a falta de atenção. "Aliás, de vez em quando até perguntam se você está com problema. Aí, se você diz que sim, eles dizem que 'problema pessoal se resolve em casa'."
Cabeça baixa
Todos os policiais ouvidos pela Folha disseram que a vida de policial piorou depois das imagens exibidas no "Jornal Nacional" de segunda-feira passada, que mostram PMs de Diadema extorquindo dinheiro, torturando e dando o tiro que matou o conferente Mário José Josino, no início de março.
No centro, a ordem do comando é não revidar provocações, nem as mais graves. Durante a semana passada, dois policiais que faziam ronda noturna nos calçadões do centro foram alvejados por um saco plástico cheio de urina lançado do alto de um edifício.
"A ordem é abaixar a cabeça, voltar para o quartel e trocar de roupa. Vamos reverter essa crise com trabalho", diz o sargento.
No 24º batalhão, de Diadema, onde estão lotados os PMs que apareceram no vídeo, a situação é mais grave.
Um soldado do batalhão, por exemplo, teve uma crise de estresse. Sua filha foi ameaçada na escola e ele, ameaçado de morte e xingado na rua. Sua casa foi apedrejada e ele teve que descer de um ônibus para não ser agredido, no dia seguinte à denúncia pela TV.
Ronaldo, soldado, que atua em Santa Cecília, também alterou seus hábitos. "Não vou para o trabalho fardado. De farda o ônibus é grátis, mas à paisana é mais seguro."

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