São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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3 - AS PISTAS

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A partir dos fatos levantados inicialmente pela CPI, é possível imaginar que o crime está solucionado: o dinheiro ficou com os bancos e empresas que articularam a venda de títulos e lucraram nas operações. Eles que armaram tudo.
Mas as pistas demonstram que não é tão simples assim. Basta dizer que o dinheiro não ficou com esses bancos e empresas, pelo menos a maior parte dele. Como?
A turma arranjou um jeito de sumir com os lucros. Fizeram negócios com empresas mais fajutas ainda, em que tiveram prejuízos iguais aos lucros obtidos antes.
Exemplo: o Vetor ganhou R$ 55 milhões de Santa Catarina e Pernambuco; passou R$ 36 milhões à corretora Perfil, onde operava Wagner Ramos (da Prefeitura de São Paulo); a Perfil, em vez de ficar com o dinheiro, o entrega a empresas de fachada. De fato, elas só existem no papel e em geral têm endereços de mentirinha.
Já encontraram centenas dessas pseudo-empresas, que receberam muito dinheiro de bancos, corretoras e distribuidoras em transações diversas.
Mas é claro que o dinheiro não ficou com esses pobres-coitados. Um deles, chamado Ibrahim Borges Filho, disse que ficava com apenas 0,3% do dinheiro. O resto virava milhares de cheques que eram enviados a diferentes pessoas (umas existiam, outras não).
Esses cheques foram parar na mão de doleiros, que vendem dólares ilegalmente, na fronteira do país. Depois disso, ninguém sabe.
Ou seja: as empresas de fachada apenas emprestam o nome para que o verdadeiro dono do dinheiro não seja revelado. É o que se chama um "laranja".
Isso deixa tudo mais misterioso. Na história policial, chegou-se a um ponto em que não se sabe mais quem é "laranja" de quem. Todos, a rigor, podem ter apenas emprestado seu nome para que um chefe mais poderoso tenha ganho dinheiro.
Por isso é tão importante descobrir onde o dinheiro foi parar.
(GP)

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