São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997 |
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Kieslowski torna-se "um dos nossos" em documentário sobre sua vida
JOÃO BATISTA NATALI
O documentário "Kieslowski por Kieslowski", em exibição no Cinesesc hoje, às 20h, para convidados do Festival Internacional, é o último instrumento para saciar essa carência. Não que os 56 minutos de uma longa entrevista sua, dada um ano antes de morrer a seu ex-assistente, Krzysztof Wierzbicki, tenha o valor de uma explicação definitiva sobre sua estética, capaz de canalizar a rica ambiguidade de sua filmografia a uma suposta interpretação unívoca, fundada nas chamadas "intenções do autor". Bem pelo contrário. Referindo-se a "A Fraternidade é Vermelha", rodado na França em 1994, com Jean-Louis Tritignant e Irene Jacob, ele diz a certa altura: "Há diferentes interpretações; que cada um escolha a sua". O média-metragem de Wierzbicki é pouco ambicioso. Força Kieslowski falar sobre sua vida, sobre o pai tuberculoso e a inusitada oportunidade, na adolescência, de abandonar o curso técnico de aprendiz de bombeiro para estudar arte dramática. Os trechos de filmes reproduzidos no documentário têm pouco a ver com os seis longa-metragens que correram pelos pelos circuitos ocidentais de distribuição. Em lugar de "A Dupla Vida de Verônica" (1991), "Não Matarás" (1987), ou "A Liberdade é Azul" (1993), o enfoque recai sobre experiências anteriores, como "Amador" (1979) ou "Câmera Buff" (1978), rodados ainda sob o comunismo e que trazem uma temática que mistura o trivial ao libertário. São pessoas reais que discorrem sobre o que acham da vida, no estilo cinema-verdade. É um operário munido de uma câmara super-8, estimulado por suas chefias a documentar o cotidiano de sua fábrica, mas que acaba se deparando com movimento grevista. Kieslowski, ao discorrer sobre si mesmo, possui na tela a trivialidade do homem comum. Seus gestos são seguros e lentos, seu olhar nada traz de profético, de carismático. Tem-se a impressão de que se trata de "um dos nossos", circunstancialmente dotado da capacidade de se exprimir pelo cinema. Em sua casa de campo, acaricia um cavalo, senta-se sobre uma pilha de lenha para ser entrevistado, e diz em certo momento que sua única boa característica é a de ser pessimista. A seu ver, "o futuro é um buraco negro". O dele chegou mais cedo, por complicações cardíacas decorrentes de um implante de safena. Filme: "Kieslowski por Kieslowski" Diretor: Krzysztof Wierzbicki Onde: Cinesesc Quando: exibição hoje, 20h, para convidados. Próxima exibição dia 9, às 19h Texto Anterior: Programação de hoje do 2º Festival Internacional de Documentários Próximo Texto: Imagens de Diadema destampam revolta secular Índice |
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