São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Negociação no Zaire começa em segredo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Representantes do presidente do Zaire, Mobutu Sese Seko, e dos rebeldes tutsis iniciaram ontem negociações de paz na África do Sul.
O encontro, que estava previsto para sábado, foi adiado por motivos "de organização estrutural". Ele ocorre em meio ao avanço das forças do líder rebelde, Laurent Desiré Kabila, que já controlam 30% do país centro-africano.
Em entrevista por escrito ao jornal da África do Sul "Sunday Times", Mobutu adotou um tom conciliador. O presidente zairense elogiou o líder rebelde chamando-o de "nacionalista patriótico" e pediu pela paz para por fim à guerra civil iniciada há seis meses.
Mobutu, enfraquecido por um câncer e confrontado com crescente oposição, observa impassível ao esfacelamento de seu governo, iniciado há 32 anos.
Kabila afirmou ontem à rádio belga RTBF que está disposto a se reunir pessoalmente com Mobutu.
"As negociações começaram", disse porta-voz do Ministério das Relações Exteriores sul-africano. O local da reunião não foi divulgado, nem a pauta de discussão.
Os rebeldes querem a destituição de Mobutu, e prometem avançar até a capital zairense, Kinshasa, para consegui-la.
Neste fim-de-semana, conquistaram a capital da região diamantífera, Mbuji-Mayi, e se aproximaram ainda mais de Lubumbashi, a principal cidade do cinturão do cobre e a segunda maior do Zaire.
A população de Lubumbashi deve receber com festa aos rebeldes, como ocorreu nas outras cidades já conquistadas por Kabila.
"Nós esperamos que eles venham hoje, senão os soldados irão saquear-nos", disse um habitante de Lubumbashi.
Os militares de Mobutu são acusados de terem promovido saques em Mbuji-Mayi antes de a cidade ser tomada pelos rebeldes.
Refugiados
À desagregação política no Zaire acrescenta-se outra crise, esta humanitária. No país, segundo a ONU, há ainda cerca de 300 mil refugiados ruandeses hutus, etnia adversária dos tutsis.
Eles fugiram de Ruanda para se estabelecer no leste do Zaire em 1994, depois que uma revolução tutsi tomou o poder no país.
Com o avanço dos rebeldes, majoritariamente tutsis, a maioria dos 2 milhões de refugiados foi repatriada. Alguns, porém, continuam em território controlado pelos tutsis. A ONU anunciou um plano para evacuar com aviões 100 mil hutus por Kisangani, a terceira maior cidade do Zaire, conquistada pelos tutsis há três semanas.
A agência para refugiados do órgão (Acnur) disse que nas atuais condições morrem três vezes mais hutus do que se eles estivessem em um campo de refugiados. Segundo a Acnur, cerca de 120 pessoas morrem a cada dia.

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