São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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OS PERCALÇOS DE PITTA

A deplorável prática de esgotar os cofres públicos em ano pré-eleitoral e deixar para o sucessor a gestão da penúria se tornou, infelizmente, quase rotineira. Obras paradas ou em ritmo muito lento, a desativação de unidades do PAS -o sistema de saúde tão propalado na campanha eleitoral- e a incúria em relação à cidade de São Paulo não deixam dúvidas quanto à repetição desse vício na última sucessão.
É surpreendente que, apesar desses fatos, o ex-prefeito Paulo Maluf ainda mantenha a imagem de realizador e administrador competente. No setor privado, um diretor que levasse sua empresa a aventurar-se em empreendimentos para as quais ela não tivesse fôlego financeiro seria demitido.
Pelo visto, na política as coisas ocorrem de maneira diversa. Prevalece muitas vezes a aparência de pessoa decidida, a impressão deixada a um público não muito atento. Obras paradas e redução do ritmo de trabalho da prefeitura em várias áreas -com os custos decorrentes- mostram como a consistência econômica pode valer pouco.
Além dos constrangimentos deixados pela gastança eleitoral, o novo prefeito, Celso Pitta, ainda encontra as limitações da linha sucessória que o vincula ao antecessor. Mário Covas pôde denunciar as dificuldades financeiras herdadas de Fleury. O mesmo fez Luiza Erundina em relação a Jânio Quadros. Pitta, no entanto, encontra-se duplamente impedido de fazê-lo. Além de candidato de Maluf, o atual prefeito foi o secretário responsável pelas finanças da administração anterior.
Tendo em vista os indícios de irregularidades que, segundo a CPI, pesam sobre Pitta e Maluf, a incipiente carreira política do atual prefeito parece hoje caminhar em terreno com fortes obstáculos. Não se pode prever qual será o desfecho das investigações sobre os títulos públicos. Além disso, passaram-se pouco mais de três meses da posse. Ainda é cedo para fazer uma avaliação. Não deixa de ser notória, porém, a grande diferença entre o clima atual e o que cercava Maluf e Pitta até fins de 96.

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