São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997 |
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Igreja vai doar terras para reforma agrária
LUIS HENRIQUE AMARAL
A decisão foi anunciada por d. Demétrio Valentini, responsável pelo setor de ação social da CNBB. Ontem, a entidade iniciou sua 35ª Assembléia-Geral, em Itaici, um distrito de Indaiatuba (110 km a noroeste de São Paulo). A CNBB ainda não recebeu o estudo completo sobre as terras da igreja. Ele chegará à Itaici na próxima segunda-feira. Dados preliminares do relatório, obtidos pela Folha, indicam que a Igreja Católica possui cerca de 280 mil hectares de terras espalhadas por todo o país. Elas pertencem a dioceses e congregações religiosas. Esse número é próximo aos 330 mil hectares identificados pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em 1985. Na época, o instituto somou também as propriedades de outros grupos religiosos. Apenas uma pequena parte do total deverá ir para a reforma agrária. Segundo a CNBB, as terras são produtivas ou ocupadas por igrejas, colégios e seminários. "É a primeira vez que fazemos um levantamento exclusivo sobre as terras da Igreja Católica", disse d. Valentini. O estudo foi feito pelo Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social), que é ligado à CNBB, a partir de questionários enviados para todas as dioceses do país. Com o estudo, a igreja pretende mostrar que a soma de todas as suas propriedades é menor que alguns latifúndios existentes no país. O estudo constatou também que, nos últimos 30 anos, a extensão das terras da Igreja Católica caiu à metade. "Elas foram alienadas por venda ou doadas para a reforma agrária", diz d. Valentini. Segundo o relatório, as terras são, em sua maior parte, divididas em pequenas glebas. "Muitas são cemitérios, capelas ou campos de futebol", diz o bispo. MST Ontem, durante a discussão sobre a pauta da assembléia, os bispos da chamada ala "conservadora" da CNBB derrubaram uma proposta de enviar uma comissão para acompanhar a chegada da Marcha Nacional pela Reforma Agrária, Emprego e Justiça a Brasília, no próximo dia 17. Os "progressistas" conseguiram apenas 90 votos a favor da comissão. Eram necessários 127 (são 255 bispos inscritos). A marcha é uma iniciativa do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e tem o apoio da CPT, a Comissão Pastoral da Terra, órgão da própria CNBB. Apesar dessa derrota, os "progressistas" conseguiram aprovar proposta para que a CNBB tome uma posição oficial sobre a privatização da Vale do Rio Doce. A proposta foi aprovada por unanimidade (não foi feita contagem dos votos) e defendida em plenário até por representantes do clero "conservador". Texto Anterior: Lei será cumprida, "doa a quem doer", diz presidente Próximo Texto: FRASES Índice |
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