São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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Coronel é o primeiro a depor e ver fita

DA REPORTAGEM LOCAL

A CPI do Crime Organizado ouviu ontem os primeiros oficiais envolvidos no caso Diadema.
O primeiro a depor, o aspirante a oficial Wilson Góes Júnior, recusou-se a falar e foi ameaçado de prisão pelo presidente da CPI Afanasio Jazadji. Mal informado, Jazadji recuou em sua ameaça assim que soube que Góes Júnior já estava sob prisão administrativa -que terminaria às 22h15 de ontem.
O segundo convocado foi o tenente-coronel Edson Pimenta Bueno Filho, 45, que acabou se tornando o primeiro oficial a falar sobre o caso na CPI do Crime Organizado.
Há uma outra CPI exclusiva sobre o caso na Assembléia de São Paulo, chamada CPI de Diadema. Membros dessa comissão participaram dos depoimentos.
Bueno Filho foi também o primeiro oficial a assistir à fita de vídeo. Comandante do 8º Batalhão, aos deputados ele detalhou seus procedimentos com os horários em que ocorreram desde que a fita chegou às suas mãos, na manhã do dia 25 de março.
Segundo o comandante, às 12h desse dia ele comunicou o conteúdo da fita ao coronel Luiz Antônio Rodrigues, estão comandante do Policiamento Militar do ABCD.
Segundo ele, às 18h do dia 25, Rodrigues telefonou para informá-lo que já tinha tomado todas as medidas punitivas contra os envolvidos. O coronel foi o segundo oficial a falar à CPI.
A jornalistas, ele disse que estava à disposição da CPI e que prestaria todos os esclarecimentos sobre seus procedimentos -inclusive com documentos.
O tenente-coronel justificou o fato de ter informado o caso inicialmente ao comandante do ABCD, e não ao seu superior imediato, em São Paulo. Segundo ele, isso aconteceu "por uma questão ética e porque o caso envolvia a região do ABCD, e não a capital".
Mesmo agindo de acordo com o regulamento da PM em casos de violência policial comprovada (decretou o afastamento e prisão dos envolvidos e comunicou os fatos a seus superiores), o coronel Rodrigues, 48, foi destituído do cargo de comandante do ABCD pelo comandante-geral da PM no Estado, Claudionor Lisboa. Aos jornalistas, o coronel Rodrigues afirmou que agiu corretamente dentro da hierarquia. Documentos apresentados por ele à comissão comprovaram isso.
Conforme a Folha publicou com exclusividade anteontem, Rodrigues reiterou aos deputados que às 14h30 do dia 25 já havia informado a Corregedoria, o Ministério Público e seus superiores imediatos. Também informara o tenente-coronel Matheus, comandante do 24º Batalhão, chefe dos PMs envolvidos no caso, pedindo o cumprimento de suas ordens. Esses procedimentos foram tomados, apesar de ele não ter visto a fita ainda naquele momento, afirmou.
Mesmo sabendo do que se tratava a fita e que a TV Globo a exibiria à noite, Lisboa não teria dado nenhuma informação ao secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva. Por causa disso, foi repreendido pelo secretário.
À CPI, Lisboa disse não ter conhecimento de nada até a exibição do vídeo na TV. A Folha apurou que Lisboa já sabia do conteúdo da fita pelo menos na tarde do dia 31. Nessa tarde, questionado sobre o conteúdo da fita pelo secretário Afonso da Silva -que havia sido procurado pelo governador Mário Covas, que queria saber o mesmo- Lisboa afirmou: "É caso de Diadema", confirmando assim que ele já tinha tomado conhecimento do caso.
Durante todos os depoimentos, deputados de partidos adversários protagonizaram duelos e acusações mútuas por estarem interessados em aparecer por causa das emissoras de TV presentes.
O deputado Ferreira Neto (PDT), por exemplo, ganhou um vaia da platéia ao interromper o depoimento de um soldado por uma suposta questão de ordem.

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