São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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Denúncias sobre orgias são retiradas

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas das três garotas que teriam participado das orgias com pelo menos 11 policiais militares nas instalações da 2ª Companhia do 26º Batalhão (Mairiporã, Grande São Paulo) negaram ontem, em depoimentos cheios de contradições, a maior parte das denúncias que fizeram anteriormente.
Adriana Félix, 22, grávida de sete meses, e G.A.L.B., 16, foram ouvidas pelo promotor Gilberto Nonaka, do TJM (Tribunal de Justiça Militar). Seus depoimentos tumultuaram as investigações e, de certa forma, enfraqueceram a denúncia que seria oferecida contra os PMs.
Os policiais (dois sargentos, cinco cabos e seis soldados), que estão presos temporariamente no presídio Romão Gomes, seriam denunciados sob as acusações de estupro, atentado violento ao pudor, corrupção de menores e atos de libidinagem. Caso fossem condenados, as penas poderiam chegar a 54 anos de prisão.
No entanto, com o depoimento das duas garotas, o Ministério Público tem agora somente provas de atos de libidinagem. Nesse caso, a pena varia de seis meses a um ano, multiplicada pelo número de dias em que as orgias ocorreram.
Já há fortes indícios de que as "festas" regadas a sexo e bebidas na 2ª Companhia do 26º aconteciam há mais de um ano, em quase todas as noites em que os policiais envolvidos estavam de plantão.
"Quando eu ia no quartel, ficava escondida. Eles (os PMs) nem sabiam que eu estava lá", afirmou G.A.L.B antes de prestar depoimento. Ela disse ter feito as visitas durante um ano. G. confirmou que saía com alguns PMs, "à paisana e de dia, senão era sujeira".
À Folha, ela afirmou ter mantido relações sexuais, "fora do quartel", apenas com o cabo Célio Gomes. Sobre a foto em que aparece fazendo sexo oral, G. disse que se trata de um antigo caso, também com PM, que aconteceu quando ela tinha "uns 13 ou 14 anos".
Ao promotor, G. confessou que transou com pelo menos oito policiais, mas sempre sem fardas e fora do quartel. Adriana, que havia negado à Folha ter tido qualquer participação no episódio, disse a Nonaka que manteve relações sexuais com dois PMs, também fora do quartel. Ela nega que esteja grávida de um desses policiais.
As duas declararam que foram coagidas a prestar depoimento no batalhão, que assinaram depoimentos em branco e foram ameaçadas pelos oficiais.
"Essa versão que elas estão contando é fantasiosa, pois elas são amigas dos PMs e gostam deles. Nós gostaríamos que tudo isso fosse mentira, mas infelizmente não é", afirmou o capitão Ércio José Inácio, subcomandante do 26º Batalhão e quem iniciou as investigações. "É só ver os autos e as fotos. Não há o que contestar."

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