São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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PM diz ter tentado evitar linchamento

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Os PMs Cláudio Pires e José Ubirajara Chaves disseram ontem no inquérito a que respondem que deixaram o industriário José Adair Welter agredir Nelson de Matos -preso por eles sob acusação de roubo de um toca-fitas- porque as pessoas na rua clamavam pelo linchamento.
A agressão dos PMs e de Welter a Matos, em Novo Hamburgo (RS), gravada por cinegrafista amador, foi exibida anteontem pela RBS-TV, afiliada gaúcha à Rede Globo.
A versão dos PMs foi divulgada pelo capitão Antonio Scussel, que preside o IPM (Inquérito Policial Militar) e ontem tomou o depoimento dos dois policiais.
Scussel disse que, se havia o desejo de linchamento, os PMs tinham mais um motivo para não permitirem que Welter, que acusava Matos de ter roubado seu toca-fitas, o agredisse com socos e pontapés na rua.
Os dois PMs agrediram Matos -cada um deu um tapa em sua cabeça. As agressões dos PMs e de Welter contra Matos, que estava algemado, ocorreram no sábado.
Segundo o capitão, os soldados, que estão detidos no quartel do 3º Batalhão de Novo Hamburgo, apresentaram uma versão que a filmagem "não mostra".
Conforme o capitão, Pires disse que "não houve possibilidade de evitar as agressões porque mais de cem pessoas pediam o linchamento" de Matos e aplaudiam os golpes que ele levava, atitudes que não aparecem na fita.
O oficial declarou que a versão apresentada por Chaves foi "na mesma linha" da de Pires.
Os soldados, cuja pena poderá variar de repreensão à expulsão, devem continuar detidos pelo menos até amanhã. Depois de soltos, vão aguardar o final do IPM fazendo serviço interno no quartel.
O capitão também ouviu Matos ontem no presídio, em Porto Alegre. Ele negou ter roubado o toca-fitas. A PM não conseguiu localizar Welter.
O delegado Mauro Vasconcelos disse que vai indiciar Welter por lesões corporais.
O policial recebeu ontem o laudo do exame de corpo de delito, que indicou a presença de quatro hematomas no rosto da vítima e um dente quebrado.
O laudo, segundo o delegado, não esclarece se o dente foi quebrado durante as agressões.

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