São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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Quem sabe faz a hora

NELSON BIONDI

Há várias maneiras de fazer economia: ligar a geladeira, por exemplo, na hora exata em que se quer gelo. Há várias maneiras de fazer economia, mas nem todas funcionam.
Analisando as eleições municipais, verifica-se que, apesar do barulho em torno das campanhas, não foram os comerciais, nem o marketing, nem o horário gratuito os responsáveis pelas vitórias: foi a imagem consolidada dos candidatos ou de seus principais aliados.
Ninguém ganhou a eleição na última hora. Ganhou quem, numa administração, em toda uma vida política, mostrou qualidades e capacidade. O horário gratuito e os comerciais são importantes, o marketing torna a campanha mais eficiente, os debates marcam diferenciais, mas o que decide uma eleição é o trabalho realizado ao longo dos anos.
Uma campanha decide quem vai ocupar o poder, quem terá futuro político, quem será ouvido. Decide quem vai esperar para voltar ao pódio. Decide quem está liquidado.
Uma campanha é importante demais para durar apenas três meses.
Queira ou não, um político vive em campanha, mesmo quando não sabe disso. Vive em campanha, mesmo quando acaba de vencer uma eleição. Frases, comportamento, atitudes são analisados pela imprensa e julgados pela opinião pública.
É democrático, portanto, que se apresente de maneira transparente, para que suas frases e atitudes sejam corretamente interpretadas, suas obras conhecidas e entendidas. Não basta ao político o saber fazer: é preciso também que se preocupe com o fazer saber.
Só assim o cidadão poderá, com conhecimento de causa, escolhê-lo ou não. Se um cidadão não sabe o que fazem, como se comportam e o que pensam os candidatos, que condições terá para elegê-los ou repudiá-los?
Muita gente tem aversão à publicidade governamental, argumentando que representa gastos imensos de dinheiro público. Um governo pode passar o mandato gastando apenas aquilo que a lei obriga (editais etc.); resta saber se isso é correto e democrático.
Não é; ao sonegar informações à população, o governo se torna imperial e antidemocrático. E a economia é pífia: as despesas com publicidade não chegam a 3% do Orçamento anual.
Essa publicidade inclui uma parte obrigatória (editais, publicações legais); informações administrativas (datas de vacinação, mudanças no IPVA ou no IPTU, bloqueio de vias para conserto, inaugurações); uso da mídia em ocasiões especiais, em que seja importante divulgar a posição do governo diante de um evento (paralisação de serviços públicos, por exemplo). E não inclui, em hipótese alguma, a louvação pessoal do governante ou de seus auxiliares -proibida por lei.
Publicidade é informação, e informação é essencial para que a opinião pública escolha democraticamente os governantes. Sabendo o que um candidato fez, um eleitor tem condições de decidir sobre o seu futuro.
Como dizia o filósofo George Santayana, quem não conhece o passado está condenado a repeti-lo.

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