São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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Banda de rock usa estrutura do Estado

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

A Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo usou sua estrutura para divulgar a banda de heavy metal Tropa de Shock. Enviou cópias do CD "Angels of Eternity" à imprensa e convidou jornalistas para o próximo show do grupo, que acontece hoje, no Piccolo Espaço Cultural, em São Paulo.
O espetáculo e o disco (lançado pela gravadora independente Hélio Cortez Music) não são apoiados oficialmente pelo órgão estatal.
O CD e o show de lançamento vêm sendo anunciados à imprensa por meio de releases (material de divulgação) há mais de um mês, sempre com o timbre da secretaria. A princípio, continham ilustrações enigmáticas de uma figura metade mulher metade monstro.
Na semana passada, um papel timbrado com o nome da assessora de imprensa do órgão, Katia Ferraz -que também assessora a banda- trazia o seguinte texto:
"Governo do Estado de São Paulo. Secretaria de Estado da Cultura. Obrigado pela atenção!!!!! Chega ao fim a nossa mala direta. Tropa de Shock - novo CD 'Angels of Eternity'. Show de lançamento em abril - São Paulo".
Procurado pela Folha, o secretário da Cultura, Marcos Mendonça, negou o apoio oficial à banda: "A secretaria, num excesso de zelo, encaminhou o material à imprensa e enviou convites como uma cortesia, uma deferência".
"O CD foi incluído no material de divulgação para dar aos jornalistas uma referência sobre a banda, que é uma das participantes da campanha Rock para Vida", afirmou a assessora Katia Ferraz.
Essa é outra ligação da Tropa de Shock com a secretaria: a banda ajudou a idealizar e participa do Rock para Vida, projeto apoiado pelo órgão que promove shows cujos ingressos podem ser alimentos ou agasalhos. O programa inclui workshops sobre Aids e drogas.
Mendonça explica o projeto: "Os grupos se cadastram e são encaminhados aos municípios. Os custos dos shows são divididos entre a secretaria e as prefeituras".
O show de hoje, no entanto, não faz parte da campanha. Mesmo assim, o secretário diz que não houve uso da estrutura do órgão para divulgar um projeto particular.
"Fazemos um trabalho meritório no sentido de arrecadar agasalhos e brinquedos e de promover campanhas antidroga. A imprensa fica buscando palhinha, em vez de olhar o lado positivo", afirmou.
A banda
A Tropa de Shock, que já tem dez anos de estrada, faz heavy metal clássico, com letras em inglês que dizem coisas como "ele é o assassino da meia-noite e pode estar dentro da sua mente".
O vocalista e tecladista Don, 24, explica a incomum associação entre rock pauleira e campanhas beneficentes: "No Brasil há bandas que fazem apologia da maconha, da política, de Deus. Nós fazemos apologia do aspecto psicológico".
"Queremos exercer ativismo sobre os adolescentes, passar uma mensagem positiva. O rock é visto como música de rebeldia, quero provar que não é assim. Sou contra as drogas, a bebida, tenho estrutura psicológica formada", afirmou.
Segundo ele, a violência em letras e na capa do CD não interfere na mensagem positiva almejada.
"A boneca é uma apologia do yin e yang, do bem e do mal. Busco o ego das pessoas, com um calcamento psicológico profundo."
Don resume os objetivos da banda: "Minha intenção maior é salvar o rock do Brasil, mas sei que isso é uma ideologia".
Quanto ao vínculo com a secretaria, ele disse: "É uma ajuda mútua com o pessoal. As pessoas têm que agradecer à secretaria por permitir que a gente traga para elas uma nova música, que é o rock".

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