São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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Monnerat alcança suas ilhas idílicas

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A artista plástica Rosana Monnerat empreendeu uma viagem. Na bagagem, levou gesso, fios de cobre e cera de abelha. Com esse material, criou as lembranças com as quais presenteará os olhares dos espectadores da individual que inaugura hoje na Casa Triângulo.
Qual uma pequena artista/artesã, com o calor das mãos, confeccionou suas pequenas ilhas, habitadas por casais em situações idealizadas e limítrofes, de carinho, amor, solidão, alegria ou desejo.
Em suas ilhas, Rosana faz como que preces. Seus dedos trabalham a cera como a beata desfia o rosário, sozinha, entregue a um amor idealizado.
Seus dedos trabalham o cobre como uma aranha que fia sua trama, sozinha, à espera de seu pasto e regozijo.
Seus dedos transformam o gesso que, de pó, vira líquido para enfim se solidificar, como que por milagre, em atendimento a um canto de hosana, refazendo assim o mistério da criação humana.
Neste mundo idealizado de Rosana Monnerat, criado depois de sua participação no projeto "Antarctica Artes com a Folha", a mulher tem um papel de destaque.
Para a criação de suas ilhas, por exemplo, usou como referência a tela "Peregrinação à Ilha de Citera" (1717), do pintor romântico francês Jean-Antoine Watteau (1684-1721).
"Quando vi o quadro pela primeira vez, pensei no que aconteceria naquela ilha, que é onde nasceu Afrodite. Aquela ilha é para a adoração da mulher, deusa e poderosa. Isso sempre me impressionou. Na verdade, sempre usei a mulher como referência, em todas as minhas figuras. Mas, quando vi o quadro, percebi que realmente havia um lugar para a mulher", disse.
Mas Watteau, com suas festas galantes em ambientes idealizados, não é a única referência da artista. "Nunca deixo de lado a história da arte. A tela de Watteau não é mais importante que uma escultura de Kiki Smith. Watteau está mais presente apenas porque serviu para a criação das minhas gravuras, mas me emociono muito com arte contemporânea", disse.
As ilhas da artista são também referências à sua produção anterior, de gravurista. Os fios que envolvem as ilhas, por exemplo, são do mesmo cobre das chapas usadas na confecção da gravura.
"Eu queria que os fios fossem linhas. As mesmas linhas que uma chapa de cobre deixa sobre a outra antes de serem usadas na gravura. Na verdade, queria que as linhas e as figuras fossem para o espaço, ganhassem corpo. Tenho muita vontade de corpo", disse.
As ilhas de Rosana Monnerat podem ser vistas também como a materialização da relação da artista com o meio das artes plásticas.
"As pessoas vivem me cobrando uma produção, e por isso eu me isolo. O meio artístico é muito impertinente."
Mas as ilhas não estarão sozinhas. Serão mostradas junto com 60 gravuras, o que dará uma idéia mais clara da viagem da artista. "Sem as gravuras, a exposição não mostraria nada de mim", disse.

Mostra: Rosana Monnerat (esculturas e gravuras)
Onde: Casa Triângulo (r. Bento Freitas, 33, centro, tel. 011/220-5910)
Vernissage: hoje, às 21h Quando: de segunda a sexta, das 11h às 19h; sábado, das 11h às 15h. Até 3 de maio
Quanto: de R$ 200 a R$ 2.000

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