São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Imprensa 'espanca' a PM, diz governador

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O governador Marcello Alencar disse ontem que a Polícia Militar vem sofrendo "um espancamento generalizado". As declarações foram dadas durante entrevista para correspondentes estrangeiros, em que predominaram perguntas sobre as agressões policiais na Cidade de Deus.
Ao reclamar principalmente da imprensa, que estaria promovendo esse "espancamento", Alencar afirmou que "isso não ajuda a democracia", pois provoca o aumento da descrença da população em relação à instituição policial.
O governador disse que a base da polícia é constituída de "homens de princípios". Alencar afirmou ser contra a extinção da PM. Segundo ele, a PM tem um "simbolismo que ajuda", sendo necessário o seu aperfeiçoamento.
A entrevista, realizada na sede da Associação dos Correspondentes Estrangeiros, já estava agendada antes da divulgação das cenas de PMs espancando moradores da Cidade de Deus, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio).
Alguns correspondentes perguntaram por que o governador havia dito, no início da entrevista, ser contra a reforma da Polícia Militar. Alencar disse não ser contra, mas afirmou que "agora não é hora de reforma".
Segundo ele, a reforma da instituição deve ser precedida de um amplo debate. Para dar sua contribuição nesse debate, o governador afirmou que vai enviar à Alerj (Assembléia Legislativa do Rio) um projeto de lei propondo a reestruturação das forças policiais do Rio.
Ele não detalhou o projeto. Para Alencar, "o nó da questão" é a militarização da Polícia Militar. Segundo o governador, a PM deve existir como polícia fardada, mas sem ser "militarizada como as Forças Armadas".
Após a entrevista, Alencar foi ao enterro de um PM morto em operação na favela São José Operário (zona oeste). O governador disse esperar que essas mortes estimulem uma reflexão na população sobre "a PM que nós temos".
Alencar afirmou que os PMs foram mortos porque, ao ver vultos, ficaram na dúvida, com medo que fossem trabalhadores. "Para não atingir inocentes, eles optaram pelo sacrifício pessoal."
Antes da entrevista com Alencar, correspondentes estrangeiros afirmaram que as cenas de espancamento na favela Naval, em Diadema (SP), e na Cidade de Deus, no Rio, prejudicaram a imagem do país no exterior. A correspondente do serviço em língua espanhola da CNN, Fabiana Frayssinet, disse que um editor da CNN, chocado, afirmou: "Isso nós vimos em filmes policiais, mas é a primeira vez que vemos na realidade".

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