São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Policiais devem ser denunciados por 6 crimes hoje

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A Corregedoria da PM concluiu haver indícios de que os seis policiais flagrados espancando moradores da favela de Cidade de Deus (zona oeste do Rio) cometeram crime militar.
O relatório com a conclusão das investigações da Corregedoria foi recebido ontem à tarde pela promotoria da Auditoria Militar.
Com base no relatório e nas imagens do vídeo gravado por um cinegrafista amador, a promotora Gizelda Teixeira pretende denunciar hoje os seis PMs. Ela deverá acusá-los da prática de até seis diferentes crimes.
O juiz Marcius Ferreira, da Auditoria Militar, disse ontem que, assim que receber a denúncia, decidirá se haverá ação penal (processo) contra os PMs. "Costumo decidir no mesmo dia. É uma coisa automática", disse.
A Folha apurou que o juiz, titular da Auditoria Militar, deverá acatar a denúncia da promotoria.
As agressões a pelo menos 11 pessoas ocorreram na madrugada de 23 de março, quando seis PMs do 18º Batalhão de Polícia Militar realizaram blitz na Cidade de Deus.
Um morador da favela gravou os espancamentos em fita de vídeo, divulgada segunda-feira no "Jornal Nacional".
A partir da divulgação das imagens foi aberta uma averiguação sumária na Corregedoria da PM. Chefe das investigações, o corregedor, coronel Laércio Pacheco, concluiu ontem seus trabalhos.
Para Pacheco, "as imagens são suficientes" para a conclusão da existência de indícios da prática de crimes de competência da Justiça Militar.
Os depoimentos dos PMs também serviram como base do relatório do corregedor. O major Álvaro Rodrigues Garcia confirmou ter chefiado a ação e identificou, nas imagens, os comandados.
Quatro acusados (sargento João Carlos Barbosa, cabo Geraldo Antônio Pereira e soldados Marco Aurélio da Silva e Aldair Ferreira Menezes) disseram ter participado de uma operação na Cidade de Deus naquele dia, mas negaram ter agredido moradores.
Eles afirmaram que, por causa do mau estado da gravação, não se reconheciam nas cenas de vídeo mostradas pelo corregedor. Disseram ainda que não ocorreram agressões durante a blitz na favela.
A Corregedoria não conseguiu ouvir testemunhas e vítimas. O oficial enviado à favela chegou a convencer três moradores a depor, mas eles faltaram aos interrogatórios marcados para anteontem.
No relatório da averiguação sumária, o corregedor não fala quais crimes os PMs teriam cometido.
Os seis PMs estão presos. A situação do cabo Paiva pode diferir da dos demais. Ele diz no depoimento que só levou os colegas à favela, voltando ao Destacamento de Policiamento Ostensivo no carro policial. Os outros acusados confirmam a versão de Paiva.
"Há a possibilidade de ele não ter estado no momento das agressões. Mas ele precisa apresentar provas documentais desse deslocamento", disse o corregedor.

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