São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Morador não acredita em governador

DA SUCURSAL DO RIO

Moradores das favelas de Cidade de Deus (zona oeste do Rio) e Parada de Lucas (zona norte), não acreditam nas promessas do governador Marcello Alencar de que a violência policial será detida.
Em Parada de Lucas, onde foram filmadas cenas de violência policial em maio de 96, moradores afirmam que PMs impõem um toque de recolher às 22h, impedindo qualquer um de se movimentar pelo bairro depois desse horário.
O juiz da 29ª Vara Criminal, Cármine Antônio Savino Filho, concedeu um habeas corpus preventivo para os moradores da Cidade de Deus, dando um salvo conduto para que ninguém mais seja molestado por policiais do 18º BPM (Batalhão de Polícia Militar).
O presidente da União Comunitária da Cidade de Deus, Ivo de Oliveira, disse que o governador voltou atrás na decisão de expulsar os PMs que espancaram os moradores em março e o recuo, na sua opinião, apavorou os moradores.
Para o presidente da Associação de Moradores de Parada de Lucas, Ary da Ilha, 53, o governador não podia falar em público que "ia mandar prender e depois recuar".
Segundo ele, Alencar "ficou em cima do muro" e se desmoralizou. Ilha disse não acreditar em uma melhoria da relação da PM com as comunidades carentes.
A violência e a "matança", afirma Ilha, continuaram em Parada de Lucas após as cenas de espancamento filmadas em maio passado (exibidas pela Rede Manchete).
Dentre os casos citados, Ilha afirmou que "três trabalhadores" foram mortos a tiros por PMs na porta de um açougue, em setembro passado. "Os PMs alegaram, como sempre, que eles morreram em uma troca de tiros."
O comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Marcos Paes, que atua em Parada de Lucas, negou os espancamentos e a morte de inocentes. "Desde 96 não sei de problemas ali."
O presidente da associação de Parada de Lucas criticou também o apoio dado pelo governador à política do secretário da Segurança, general Nilton Cerqueira, de gratificar PMs que pratiquem supostos atos de bravura.
"Pelo que senti, a matança vai continuar. Essa premiação estimula a violência. O negócio é o policial mostrar serviço, mesmo matando trabalhadores", afirmou.
O governador negou que tenha recuado e que a premiação estimule a matança. Segundo ele, premiar o policial faz parte do "processo moderno de trabalho".

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