São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997 |
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'Filmar é como respirar novamente
PAULA DIEHL
* Folha - Você coloca todos os personagens comprometidos com a verdade. Mas quem tem interesse em desvendar o mistério é um traficante-gigolô. Por quê? Batista de Andrade - De início esse personagem me pareceu negativo, quase uma caricatura. Mas ele acabou tendo um duplo papel, que o enriquece. O lado negativo dele é o da pessoa que tem pressa em solucionar as coisas. Enquanto o artista está às voltas com os fatos e a interpretação dos fatos, ele não quer saber de dúvidas, ele quer que o artista conte logo a história das meninas assassinadas. Esse personagem acaba obrigando o artista a encontrar uma saída do marasmo em que ele mesmo se encontra. Para mim, é um pouco a representação de uma certa pressa que existe no Brasil com relação às dúvidas. Folha - Você sente um certo policiamento das idéias? Batista de Andrade - Eu me sinto frágil depois de ter passado por uma fase em que me sentia muito forte intelectualmente. Hoje falo com medo de ousar. O marasmo do velho contador de histórias tem muito a ver com isso. Porque todo o tempo ele está contando uma história que não é a dele. Quando fala dos poderosos, ele é valente. Mas, quando fala de sua própria história, ele é muito frágil. Folha - Como você vê a esquerda hoje, após o fim da utopia? Batista de Andrade - O que há na esquerda é um silêncio. A esquerda que fala hoje é burocrática, sindicalista. A intelectualidade brasileira faz de conta que não aconteceu nada e com isso deixa de existir. Texto Anterior: Batista de Andrade mescla narrativas em 'O Cego' Próximo Texto: 'Estrela' reúne astros emergentes Índice |
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