São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997 |
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Batista de Andrade mescla narrativas em 'O Cego'
INÁCIO ARAUJO Crítico de Cinema Pode-se contar a história de "O Cego Que Gritava Luz" a partir do esqueleto criado por João Batista de Andrade.Nesse caso, temos um filme que se funda sobre o desenvolvimento paralelo de duas narrativas. Numa, um contador de histórias entretém os frequentadores de um bar à beira do lago de Brasília. Mas, como uma Sherazade bloqueada, não consegue chegar ao fim do caso que conta, que versa sobre a morte de duas meninas. Na outra, há um cego que aparece na cidade e se diz capaz de reconhecer o assassino das meninas. A idéia consiste em fazer as duas narrativas convergirem, sem que o espectador se dê conta do mecanismo que as une. Nesse sentido, o diretor construiu uma base animadora para um filme policial. Pode-se contar a história, porém, a partir daquilo que efetivamente vemos na tela. Nesse caso, as coisas são menos animadoras. O filme tem problemas estruturais graves, que vão da pouca consistência dos personagens de apoio à incapacidade do contador de intrigar seus ouvintes (no bar ou na platéia), oferecendo variantes para a história cujo final não consegue contar. Assim, compreendem-se as reações iradas de um gigolô deselegante que o escuta. E é de se lamentar que, por exemplo, essas reações -muito marcantes- não tenham relação com o desfecho. Por fim, o contador de histórias em questão é um bêbado com mais ou menos todos os defeitos (e/ou clichês) do alcoolismo. Tem voz pastosa, fala alto demais, pelos cotovelos, anda de maneira trôpega. Com isso, "O Cego" termina não respondendo às expectativas criadas por seu argumento. Incerto entre o humanismo do diretor (no mais, facilmente partilhável) e uma estrutura inicial forte, "O Cego" vai se encolhendo, até reduzir-se a um "whodunit" cujo interesse reside, basicamente, em saber quem são os culpados por um crime. Como o adiamento do desfecho exigiria maior rigor do roteiro, a força da proposta inicial se perde dramaticamente ao longo do filme. O crítico assistiu ao filme antes da sua remontagem, que incluiu cortes de cerca de dez minutos Filme: O Cego Que Gritava Luz Produção: Brasil, 1996 Direção: João Batista de Andrade Elenco: Tonico Pereira, Roberto Bontempo Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco de Cinema - sala 4 Texto Anterior: Cenários têm novo tratamento Próximo Texto: 'Filmar é como respirar novamente Índice |
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