São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Atores fazem o espetáculo de "Assembléia"

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucas foram as grandes encenações, propriamente, do Teatro Popular do Sesi, nessa fase recente de encomendas a diretores.
Talvez com exceção de "Péricles", por Ulysses Cruz, o foco das produções esteve concentrado nos atores, afinal contratados, pagos, em grandes elencos, com alguns dos melhores nomes selecionados para as produções.
Segue assim em "Assembléia de Mulheres", a comédia de Aristófanes sobre a tomada do poder pelas mulheres, graças a um ardil na assembléia -iniciando uma nova ordenação do Estado, em que as convenções familiares, sexuais e comportamentais são viradas do avesso.
A comédia é encenada por Moacyr Góes, diretor baseado no Rio de Janeiro, de "A Escola de Bufões" e "Epifanias", mas talvez traga mais a marca de atores como Walter Breda e Lígia Veiga (aqui concentrada na execução das músicas) do que dele próprio.
Não que a encenação não tenha a sua qualidade; aliás, muitas. A começar da cenografia e do figurino, concentrados ao mínimo, mas com elementos expressivos, no tablado com a face de Aristófanes, nas vestimentas simples, panos sobrepostos, mas que jogam com os corpos das mulheres, nas bandeiras e escadas.
Também na música, criada e executada por Lígia Veiga, mas sob a direção de Góes; música que, tanto quanto a cenografia, compõe a ambiência para a comédia, situada claramente em tempo próprio, sem concessão fácil às atualizações. (Aristófanes, em "Assembléia", fala escancaradamente ao presente, e qualquer esforço de explicitação seria mesmo excessivo.)
Mas é nos atores que está o espetáculo. O humor de Breda, já visto em peças de Antônio Abujamra e muitos outros, tem o tempo exato da comédia popular brasileira. A tradição do teatro de revista pode ter se perdido décadas atrás, mas alguma coisa ainda está nele, aqui o protagonista masculino.
É Blêpiro, confuso, mas sempre "macunainamente" aproveitador diante do súbito poder tomado por sua mulher, Praxágoras (a ótima comediante Magali Biff), e das mudanças que ela impõe à cidade de Atenas.
É o humor popular de Walter Breda, que impressionou o diretor a ponto de descrever o comediante como um dos maiores atores do país, que impregna e dá linha à montagem.
Está em Helen Helene, comediante conhecida por "Almanaque Brasil"; a atriz sai pela platéia, em improvisações com os espectadores, permeando temas da peça com outros, contemporâneos, e com o que vai encontrando pelos corredores. Um salto de interpretação para atriz de trabalho até então mais tradicional.
Outros intérpretes se destacam, como é o caso de Maria do Carmo Soares, que faz a incontrolável primeira Velha, no momento do confronto com as jovens por um homem. (Uma nova lei diz que todo homem pode sair com quem quiser, mas para ter as jovens precisa passar antes pelas velhas.)
Se não dá o salto de qualidade que faria dela uma montagem à altura de "Epifanias", por exemplo, "Assembléia de Mulheres" (de 382 a.C., também já traduzida como "A Revolução das Mulheres") é certamente um bom entretenimento. Além de engraçado, crítico, como antes aos sofistas, agora às feministas extremadas.

Peça: Assembléia de Mulheres
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 011/284-9787)
Quando: de quarta a sexta, às 20h30; sábado, às 17h e às 20h30; domingo, às 17h
Quanto: Grátis (retirada antecipada do ingresso)

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