São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Alemanha acusa Irã por terrorismo

TONY BARBER
DO "THE INDEPENDENT"

Pela primeira vez num sistema judiciário ocidental, os líderes do Irã foram considerados diretamente responsáveis pelo terrorismo internacional, quando um tribunal alemão decidiu, ontem, que ordenaram o assassinato de três militantes oposicionistas curdos iranianos em Berlim.
O julgamento mergulhou as relações da Alemanha com o Irã em crise imediata, e os dois países reconvocaram seus embaixadores, em sinal de desaprovação.
Autoridades disseram que a Alemanha está pondo fim a seu "diálogo crítico" com o Irã no futuro previsível -uma política que dava ênfase à cooperação cautelosa, mais do que ao confronto.
O governo do chanceler Helmut Kohl também expulsou do país quatro diplomatas iranianos, cujos nomes não foram fornecidos. O Irã retaliou, expulsando quatro diplomatas alemães.
O Ministério iraniano das Relações Exteriores rejeitou a decisão do tribunal de Berlim e considerou que foi inspirada por "elementos contra-revolucionários" e "propaganda sionista hostil". Mas líderes oposicionistas iranianos no exílio saudaram a decisão do tribunal, qualificando-a de golpe devastador contra a reputação do governo iraniano.
Embora o tribunal não tenha citado nomes, ficou claro que apontou um dedo acusador ao presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani e ao aiatolá Ali Khamenei. O tribunal também implicou nos assassinatos o chefe do serviço iraniano de inteligência, Ali Falahian, contra quem promotores alemães emitiram ordem de prisão.
O juiz Frithjof Kubsch condenou o iraniano residente em Berlim Kazem Darabi e o libanês Abbas Rhaiel à prisão perpétua, pelo que a promotoria qualificou de assassinatos por encomenda, cometidos a sangue frio. Dois outros libaneses, Ioussef Amin e Mohamed Atris, foram condenados respectivamente a 11 anos e a cinco anos e três meses de prisão.
Sadegh Charafkandi, líder no exílio do Partido Democrático Iraniano do Curdistão, dois outros ativistas partidários e um tradutor foram mortos a tiros de armas automáticas disparadas por um grupo de homens mascarados, no restaurante Mykonos, em Berlim. "Foi a liderança política iraniana que ordenou esse crime" disse o juiz Kubsch.
Sua decisão confirmou a visão defendida pelos EUA de que os líderes islâmicos do Irã vêm há muito tempo patrocinando o terrorismo internacional. O Departamento de Estado norte-americano elogiou a decisão do tribunal.
A Alemanha e outros países da União Européia vinham defendendo seu "diálogo crítico" com o Irã, afirmando que as alegações americanas de terrorismo de Estado iraniano se baseavam em evidências incertas. A Alemanha tem interesse em não romper relações com o Irã totalmente, porque é a maior parceira comercial ocidental do Irã.
Os ministros das Relações Exteriores da UE vão reunir-se em Bruxelas no próximo dia 29, e é possível que imponham sanções ao Irã. Mas tanto o governo alemão quanto o oposicionista Partido Social-Democrata querem evitar uma ruptura total nas relações diplomáticas. Os iranianos também valorizam seus laços com a Alemanha e podem limitar seus protestos contra a decisão do tribunal.
Se houve um aspecto do tribunal que provocou indignação especial nos iranianos foi a promotoria ter utilizado o testemunho de Abolhassan Banisadr, ex-presidente no exílio, odiado por Teerã.
Banisadr disse ao tribunal, ano passado, que um "Comitê de Operações Especiais", que se reporta ao aiatolá Khamenei, havia ordenado os crimes. O assessor de inteligência de Helmut Kohl, Bernd Schmidbauer, testemunhou que Fallahian o visitou em Bonn, em 1993, numa tentativa de impedir que o julgamento fosse adiante.

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