São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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D. Luciano reclama da falta de 'ética'

Para ele, faltou discussão com o Congresso

LUIS HENRIQUE AMARAL
ENVIADO ESPECIAL A ITAICI (SP)

D. Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana (MG), afirmou ontem que o processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, conduzido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, "não é ético".
O arcebispo foi escolhido ontem para falar pela 35ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que acontece em Itaici, bairro de Indaiatuba (110 km a noroeste de São Paulo).
A CNBB divulgará um documento oficial contra o processo de privatização da Vale no final da assembléia, depois que os bispos debaterem o assunto.
Segundo a Folha apurou, a entidade deverá pedir o adiamento do leilão, marcado para o dia 29, para que o assunto seja melhor discutido pela sociedade.
A divulgação do documento foi aprovado por unanimidade (não foi feita contagem dos votos) e defendida em plenário, até por bispos do clero "conservador".
Para d. Luciano, o processo de privatização não é ético porque "não foi realizado um amplo debate com o Congresso, como deve ocorrer em um país democrático".
"O que está em questão é o tamanho do Estado. E não compete ao Executivo acelerar uma decisão sobre isso. É papel do Legislativo e da população."
Para ele, a igreja deve participar do debate sobre a privatização justamente por estar havendo problemas éticos. "Como igreja, temos obrigação de ficar atentos às exigências éticas e denunciar esse processo", afirmou.
A CNBB e outras entidades que fazem restrições à privatização da Vale, como a Ordem dos Advogados do Brasil e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, solicitaram uma audiência com FHC para discutir o assunto. "Até agora não recebi a resposta do pedido", disse.
D. Luciano ainda criticou o que chamou de "boicote" dos meios de comunicação aos que se opõem à privatização.
"Há pessoas de notório patriotismo que, sem ganhar nada, são contra a privatização. E não sai nada nos jornais", afirmou.
D. Luciano disse que esse boicote tem relação com os R$ 7 milhões que o governo está aplicando em campanha publicitária para defender a privatização.
"É lamentável que um debate que deveria ser imparcial está sendo pautado pelo dinheiro", afirmou d. Luciano.

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