São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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Questão racial divide negros

DA REPORTAGEM LOCAL

A declaração do prefeito de São Paulo, Celso Pitta (PPB), de que estaria sendo perseguido politicamente por racismo dividiu entidades ligadas ao movimento negro.
Enquanto algumas organizações consideraram a idéia uma tentativa de desviar a atenção das responsabilidades do prefeito no caso, outras acreditam que o fato de ser negro tem prejudicado Pitta.
"Acho bobagem dizer que isso está acontecendo porque ele é negro. É importante discutir a questão racial, mas ela não inocenta o Pitta de suas responsabilidades", disse Ederaldo Silva do Nascimento, um dos coordenadores do Núcleo de Consciência Negra da USP.
Flávio Jorge Rodrigues da Silva, da Soweto Organização Negra, diz que, por trás dessa discussão sobre racismo, há uma tentativa de "encobrir" as acusações contra Pitta.
"O que a população quer saber é se ele é ou não corrupto. Estão tentando desviar a discussão."
Na opinião da presidente da Fundação Cultural Palmares, Dulce Pereira, o episódio trará consequências futuras para o movimento negro porque consolida o "imaginário racista".
"Não acho que isso esteja acontecendo só porque ele é negro. Mas, apesar de não concordar com as propostas dele, tenho certeza de que a exposição cotidiana subliminar existe por motivos raciais."
Mesmo não sendo eleitora de Pitta, Edna Roland, do Geledes Instituto da Mulher Negra, disse estar surpresa com a "velocidade" com que pedem o impeachment do prefeito. "Isso é prova de racismo."
O presidente do Conselho da Comunidade Negra de São Paulo, Antônio Carlos Arruda, questionou o fato de as investigações não estarem centradas em Maluf.
"Se o Pitta não fosse negro, as investigações não seriam tão alardeadas como têm sido."

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