São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Soldado chora e diz ter visto tapas de PMs

DA REPORTAGEM LOCAL

O soldado Adriano Lima de Oliveira disse ter visto Nelson Soares da Silva Júnior e Otávio Lourenço Gambra, o Rambo, dando "empurrões e tapas" nas pessoas abordadas.
Último acusado a depor, Lima chorou durante todo seu depoimento e chamou de "enérgica" a atitude dos outros acusados.
"Eu estava do outro lado da rua. Vi que eles (Rambo e Júnior) estavam trabalhando de forma enérgica." A juíza perguntou o que significava "enérgico" e ele disse: "Dando empurrões e tapas nas pessoas."
Sobre o fato de não ter tomado nenhuma atitude sobre o que os outros faziam, disse que havia policiais graduados na ocasião e não cabia a ele fazer algo. "Ali, eu era o último a falar. Tinha um cabo, o Buzeto, comandando."
Defesa
Em sua defesa, Lima afirmou que era inexperiente no trabalho policial. Afirmou que nunca havia feito patrulhamento de rua e que não havia participado de nenhuma das agressões.
"Foi a minha primeira noite nesse dia, fui transferido de escala. Não conhecia ninguém. Antes disso, trabalhava no setor administrativo."
O policial disse à juíza Maria da Conceição Pinto Vendeiro que entrou para a Polícia Militar em 22 de abril de 96.
Formou-se no curso de preparação de soldados em dezembro e atuou na Operação Verão, em um batalhão da cidade de Praia Grande (litoral sul de São Paulo).
"Eu nunca havia entrado em uma favela à noite. Estava desesperado e estava com medo", disse Lima, chorando.
O policial negou todas as acusações existentes contra ele e afirmou que não presenciou o homicídio do conferente Mário José Josino. Disse, no entanto, que ouviu disparos de arma de fogo naquela noite.
"Ouvi o ruído dos disparos. Acho que foram três ou dois tiros, não sei. Mas não vi o que aconteceu. E não sei se alguém morreu por causa deles."
Lima ouviu duas vezes da juíza a pergunta se havia algo mais que gostaria de falar.
Disse que sim nas duas vezes. Na segunda, fechou seu depoimento com uma frase de efeito.
"Queria que Deus e a Justiça devolvessem a minha vida normal."
Ao contrário do que fez com os outros depoentes, a juíza Maria da Conceição não insistiu mais e pôs fim, por conta própria, ao interrogatório de Lima.

Texto Anterior: Policiais foram ameaçados, diz acusado
Próximo Texto: Acusados se recusam a falar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.