São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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Mostra liberta livros proibidos

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Na tentativa de compreender as motivações da censura no país desde 1808, um colóquio e uma exposição a serem abertos quinta-feira, em São Paulo, podem jogar alguma luz sobre um problema que persiste no Brasil, em 1997: a proibição à circulação de livros.
Os 40 painéis, com 45 documentos inéditos, da exposição "Livros Proibidos, Idéias Malditas" mostram a ação rigorosa, mas às vezes surreal, do Deops (Departamento de Ordem Social e Política) de São Paulo, entre 1924 e 1983.
O colóquio, o segundo de uma série de 12 sobre o tema geral "Direitos Humanos no Limiar do Século 21", promovido pelo Centro Universitário Maria Antonia, se intitula "Minorias Silenciadas" e vai versar basicamente sobre censura (leia quadro abaixo).
"A história da censura no Brasil ainda está por ser escrita, apesar de a historiografia brasileira contar com múltiplos estudos sobre o tema", afirma a coordenadora da mostra, a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro.
Quem se aventurar a escrever essa história vai poder mostrar, acredita Tucci Carneiro, o vaivém das preocupações políticas de diferentes governos e as variadas faces da oposição a esses governos.
"Por intermédio das obras confiscadas pela 'Polícia das Idéias' é possível recuperarmos os múltiplos vieses do movimento de resistência ao autoritarismo", diz ela.
No período coberto pela exposição (1924-83), o principal alvo da censura são as obras identificadas como comunistas ou marxistas. Mas não só: o Deops apreende, ao sabor dos tempos, por exemplo, literatura tanto pró quanto contra o integralismo e o nazismo.
O apelo maior de "Livros Proibidos, Idéias Malditas" são justamente os casos grosseiros, cômicos ou esdrúxulos de censura.
É a situação, por exemplo, do livro "Coleção de Modinhas em Homenagem ao Autor Humorista Lamartine Babo", anexado pelo Deops ao prontuário de um militante comunista, em 1940.
A explicação para essa apreensão é que a polícia havia descoberto que alguns militantes camuflavam panfletos "revolucionários" dentro de livros "inocentes".
Também causa espanto a perseguição a alguns livros infantis de Monteiro Lobato (1882-1948), entre os quais "Peter Pan", editado em 1938 e caçado ao longo da década de 40 por todo o Estado de São Paulo, sob a justificativa de que mostrava às crianças brasileiras "a nossa inferioridade".
A exposição tenta compreender, ainda, as razões da surreal apreensão, em 1937, de 1.679 exemplares do livro "História da Revolução Francesa" -e, dez anos depois, de três exemplares de "A Grande Revolução Francesa".
A pesquisa para a exposição foi feita junto a alguns dos 150 mil prontuários do Deops guardados no Arquivo do Estado. Tucci Carneiro coordena um grupo de estudantes de história da USP que está cadastrando esses prontuários.
Segundo ela, um em cada quatro prontuários contém referências a livros proibidos.

Livro: Livros Proibidos, Idéias Malditas Autora: Maria Luiza Tucci Carneiro
Preço: R$ 15 (102 págs.)
Lançamento: dia 17 de abril, às 18h30, no Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, região central de São Paulo, tel. 011/255-5538)

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