São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997
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Cineasta francês afirma que documentário não ensina nada

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O cineasta Marcel Ophuls, 69, debateu sua obra e o cinema documental anteontem à noite no auditório da Folha com os documentaristas brasileiros Sylvio Back e Silvio Tendler.
O debate, promovido pela Folha em conjunto com o 2º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, foi mediado pelo crítico Amir Labaki, articulista da Folha e diretor-geral do festival.
Considerado um dos maiores documentaristas contemporâneos, Ophuls explicou ao público presente ao debate que adotou o formato contra a sua vontade. "Depois do fracasso de um dos meus filmes de ficção, tive de aceitar o convite da TV francesa para realizar reportagens."
Assim começou uma carreira que inclui documentários marcantes como "A Dor e a Compaixão" (71) e "Hotel Terminus - Klaus Barbie, Sua Vida e Seu Tempo" (88) premiados com o Oscar.
Para surpresa de seus interlocutores, Ophuls declarou que, ao fazer um documentário, interessa-se mais pela forma do que em mostrar "a verdade dos fatos".
"Os filmes não mudam as prioridades na vida de ninguém."
Para Ophuls, a crença no cinema-verdade "é uma idéia tola que insulta os mestres do cinema, como Hitchcock e Max Ophuls, que faziam cinema melhor e eventualmente até mais realista".
Instigado por Sylvio Back a falar sobre a proliferação das imagens violentas no cinema e na TV, Ophuls disse que colocar fora das telas cenas de brutalidade não resolve o problema da banalização da violência, mas atacou o cinema violento de ficção.
O documentarista Wladimir Carvalho perguntou a Ophuls sobre o distanciamento do cineasta diante de seu objeto. "Acho que o diretor deve deixar claras suas opiniões, mas sem ensinar lições ao público", respondeu.
(JGC)

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