São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 1997 |
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FHC recebe sem-terra na 6ª; MST desiste de demissão Encontro troca saída de ministro por "coisas mais amplas" DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O presidente Fernando Henrique Cardoso recebe na sexta-feira à tarde os líderes da marcha dos trabalhadores rurais sem terra, que chega a Brasília na quinta-feira.O pedido de audiência não passou pelo ministro Raul Jungmann (Política Fundiária), responsável pela condução da reforma agrária. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) acusao ministro de tentar isolar o grupo. Alguns setores do MST chegaram a pedir a demissão de Jungmann, que disse não se sentir desgastado. "Pedir cabeça é coisa bíblica. É Salomé que vivia atrás de cabeças." O ministro afirma que não está rompido com o MST. Diz que tem mantido contato com os líderes do movimento e afirmou que estará presente na audiência de sexta-feira quando FHC receberá os líderes da marcha dos sem-terra. A solicitação de audiência foi protocolada oficialmente no Palácio do Planalto, em carta assinada por João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, e Gilberto de Oliveira, coordenador da marcha. Há uma semana, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) vem conversando com o presidente para que a audiência com os líderes da marcha fosse marcada. A carta assinada por Stédile e Oliveira solicita a audiência para discutir a política de reforma agrária. O documento não pede a demissão de Jungmann, mas critica a condução da reforma agrária. Stédile disse que o movimento não irá pedir a demissão de Jungmann, porque "o nome do ministro quem decide é o presidente". "O que dissemos é que Jungmann está despreparado para o cargo. Nós não vamos incluir isso (demissão do ministro) na nossa pauta de reivindicações", afirmou. O líder dos sem-terra disse, no entanto, que o MST não aceitará negociar com o ministro. Dados O governo divulgou ontem dados de acampamentos e famílias acampadas do MST. Jungmann disse que a estratégia do governo é informar sobre a reforma agrária para que haja confrontação dos números do MST com os oficiais. Pelos dados, há no país 170 acampamentos do MST, com 29.499 famílias (44,2% na região Sul). Dos acampamentos, 68,2% estão dentro de áreas invadidas, 2,9% na beira das estradas e 8,8% nas proximidades dos imóveis. Segundo o Incra, dos 170 acampamentos, 27 são recentes (feitos este ano). Do total, 154 áreas são ou serão objeto de assentamento. Jungmann disse que o governo recuou e o presidente FHC decidiu receber o MST em audiência por que o movimento mudou. "O MST mudou. Fechou acordos em Londrina, em Sergipe e no Mato Grosso do Sul, e há dois meses não invade nossos prédios nem faz ninguém refém. Evidentemente, a gente tem que considerar isso: o MST mudou e a gente acompanha essa mudança", disse o ministro de Política Fundiária. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) assumiu o papel de interlocutor entre o MST e FHC. "Falei no domingo à noite com o presidente e acertei que os sem-terra não iriam pedir a cabeça do Jungmann. Não há mais necessidade. O movimento tem de exigir coisas mais amplas", disse. As "coisas mais amplas" às quais o petista se refere seriam garantias do governo em ampliar o número de famílias que pretende assentar. O Plano de Metas de FHC se compromete a assentar 280 mil famílias até 1998. O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), vai receber uma comissão de 15 sem-terra na sexta-feira e permitiu manifestação do movimento em frente ao prédio do Congresso. ACM afirmou que não vai permitir que os sem-terra utilizem equipamento de som próprio na área do Senado. Em compensação, disse que a Casa vai pagar o equipamento a ser utilizado. Texto Anterior: FHC recebe sem-terra na 6ª; MST desiste de demissão Próximo Texto: Governo teme a infiltração de radicais Índice |
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