São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem-terra já 'fecham o cerco' a Brasília

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os sem-terra em marcha a Brasília já começam a "fechar o cerco" para a manifestação de quinta-feira.
Ontem, dois grupos, de 600 e 830 sem-terra, respectivamente, esperavam pela data da manifestação em Taguatinga (30 km de Brasília) e Gama (40 km da capital).
Nos próximos dias, manifestantes de outras áreas estarão chegando à capital federal (ver reportagem nesta página).
"Estou sofrendo, mas estou gostando." Essa frase virou o grito dos sem-terra que vieram das regiões Sul, Sudeste e da Bahia e que chegaram ontem ao Distrito Federal, depois de percorrerem mais de 1.000 km.
A expectativa da chegada do líder sem-terra José Rainha Jr. movimentou a reta final da caminhada dos sem-terra que saíram de São Paulo e de Governador Valadares (MG). Até as 19h, ele não havia chegado, mas os andarilhos ainda
acreditavam que ele apareceria.
Como o braço Sul-Sudeste reuniu duas correntes da marcha que caminharam a maior parte do tempo separadas, era inevitável uma certa rivalidade entre os "branquinhos" do Sul e de São Paulo e os sem-terra de Minas Gerais e da Bahia.
"A gente faz gozação, mas estamos todos no mesmo barco", disse Roberto Luz, 35, que caminhou o tempo todo com uma garrafa de refrigerante cheia de água equilibrada na cabeça.
Para cada pessoa que perguntava o motivo, Luz dava uma explicação diferente, mas sempre dizia que estava protestando "contra a política neo-liberal de FHC".
Ele comparou a marcha às procissões religiosas. "Só que antes a gente fazia orações e não agia. Mas o sentimento é igual. Em várias cidades por que passamos, as pessoas choravam. Fiquei pensando por que e acho que elas sentiam
como se estivessem revendo a via crucis que Jesus percorreu", disse Luz, que deixou a mulher e três filhos em um assentamento no Vale do Jequitinhonha (MG).
Os 600 sem-terra da marcha oeste dedicaram o dia de ontem ao lazer e às tarefas domésticas.
A marcha oeste, na estrada há dois meses, reúne sem-terra de sete Estados (GO, MT, MS, DF, RO, PA e MA). Eles estão acampados num ginásio em Taguatinga.
Pela manhã, parte do grupo -a maioria jovens- caminhou quatro quilômetros até o parque Vai Quem Quer. Eles praticaram esportes, como vôlei e futebol, na moraram, brincaram na piscina e cantaram em rodas de violão "Pobre é que nem cachimbo, só leva fumo, só leva fumo", diz o refrão de uma das músicas cantadas pelos sem-terra.

Texto Anterior: 'Me dei bem', diz agricultor
Próximo Texto: Rainha quer despejar mandioca
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.