São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 1997
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Depoimento de coronel põe PM em xeque

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O depoimento do coronel Coji Yanaguita, previsto para hoje na CPI de Diadema, será decisivo para o futuro de parte da cúpula da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Yanaguita, que antes de sair de férias era o comandante do CPA/M2 (responsável pelo policiamento na zona sul), disse ontem à Folha que vai manter exatamente o que disse na semana passada à CPI do Crime Organizado.
Na semana passada, Yanaguita afirmou aos deputados da Assembléia Legislativa que soube da existência de uma fita de vídeo com cenas de violência policial em Diadema no dia 27 de março (quatro dias antes de as imagens de extorsão e tortura serem divulgadas pela TV). Ele também disse à CPI saber que o cinegrafista estava negociando a venda da fita com uma emissora de televisão.
Yanaguita afirmou que, no mesmo dia 27, repassou as informações ao coronel Carlos Alberto da Costa, subcomandante-geral da PM no Estado, o segundo homem no hierarquia da corporação.
Em entrevista concedida à Folha na semana passada, Costa desmentiu as declarações de Yanaguita. Ontem, fez mistério e disse que vai falar tudo o que sabe hoje (leia texto ao lado).
Logo após o episódio de Diadema desabar sobre a PM, no último dia 31 -quando a fita foi divulgada pela televisão-, cinco oficiais com cargos de comando na corporação foram afastados de suas funções por saberem do vídeo e porque não teriam comunicado o comando geral. Apesar do depoimento de Yanaguita na semana passada, nem ele nem o subcomandante Costa foram afastados. O secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva, disse nasemana passada que esperaria pelos depoimentos de hoje para tomar providências.
O governador Mário Covas e o comandante-geral da PM, coronel Claudionor Lisboa, afirmaram que o afastamento de Yanaguita é quase certo.
Yanaguita nega, no entanto, que tenha assistido à fita antes de ela ir ao ar. Ele declarou apenas que soube que uma pessoa havia gravado imagens de violência policial em Diadema e que ela estaria negociando a venda da fita para uma emissora de televisão.
Em entrevista à Folha, Yanagui ta diz estar com a consciência tranquila porque comunicou o caso ao seu superior imediato, no caso, Costa. A seguir, trechos da entre vista, concedida por telefone.
*
Folha - Coronel, o que o senhor vai dizer amanhã (hoje) aos deputados da CPI de Diadema?
Coji Yanaguita - Vou manter o que eu já falei anteriormente (que foi informado da existência da fita de vídeo pelo coronel Leuces André Pires de Moraes no dia 27 de março). Vou falar exatamente o que eu disse na CPI (do Crime Organizado) na semana passada.
Folha - O senhor repassou essa informação no mesmo dia ao coronel Carlos Alberto da Costa?
Yanaguita - Sim. No mesmo dia.
Folha - Por que então o coronel Costa negou na semana passada que sabia que existia uma fita?
Yanaguita - Não sei por que ele está negando. Não faço idéia.
Folha - Mas ele nega, inclusive, que tenha existido uma conversa com o senhor.
Yanaguita - Como foi uma conversa, e não foi nada por escrito, não sei o que ele entendeu.
Folha - O senhor teme ser afastado de sua função?
Yanaguita -Não. Estou com a consciência tranquila.

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