São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 1997
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O software nacional

LUÍS NASSIF

Do consultor Roland Berger, da Roland Berger & Partner, da Alemanha, citado pela "Gazeta Mercantil": "O Brasil vai tornar-se fornecedor mundial de software. Vocês têm aqui a melhor música, o melhor desempenho nos esportes. Como um povo com essas características pode não ser criativo?"
O alemão sabe das coisas. O Brasil, ainda não.
Na Malásia, a indústria de software virou questão de segurança nacional. O país criou um "corredor de informática", com cabos de fibra ótica e a melhor tecnologia de comunicação, visando atrair empresas que desenvolvem software. O próprio primeiro ministro da Malásia foi até o Vale do Silício -a Meca do software nos Estados Unidos- para vender seu peixe.
Em contrapartida, na última reunião da Organização Mundial do Comércio, em vez de tarifas, discutiu-se tecnologia. Os diplomatas do Itamaraty foram apanhados de calças curtas, sem noção do que tratar.
Negócio de pequenos
Não se trata de coisa pequena, embora seja negócio de pequenos. Na indústria da informação, a de software é a que tem mais crescido no mundo. O mercado mundial é estimado em US$ 150 bilhões por ano.
O líder -a Microsoft- fatura apenas US$ 7 bilhões. O restante é composto por algumas empresas maiores e uma infinidade de empresas médias, com faturamento de apenas US$ 2 milhões por ano.
Até agora, os esforços públicos nacionais se restringiram ao programa Softex 2.0000 -desenvolvido no âmbito da Secretaria de Ciência e Tecnologia, visando criar e integrar centros de pesquisa de software em todo o país.
Hoje, o Softex tem 20 núcleos, reunindo mais de 700 empresas. Em 1995, pelo menos 125 empresas realizaram alguma venda no exterior. Responde ram por US$ 50 milhões de vendas nos Estados Unidos e outros US$ 50 milhões em outras partes do mundo.
É pouco, mas promete.
Até o final do ano, a gestão da Softex estará completamente privada.
De 1993 a 1997, o grosso do investimento foi do governo. Chegou ao limite de US$ 12 milhões de investimentos diretos, e US$ 100 milhões de investimentos totais -incluindo Estados e empresas.
Na fase inicial, a fonte de financiamento eram incentivos fiscais, o CNPq e receitas de eventos. A partir de 1993, decidiu buscar outras formas de financiamento.
Negócios
A ordem agora é buscar negócios para o software nacional.
Para tanto, o Softex abriu uma empresa para ser promotora de negócios nos Estados Unidos. E conseguiu, junto com o BNDES, desenvolver um modelo de financiamento para o setor -em geral, constituído de empresas pequenas, sem garantias reais para oferecer.
De cada financiamento, 8% irão para um Fundo de Seguro de Crédito. Como contrapartida, a empresa receberá o valor correspondente em bolsas do CNPq.
Para se habilitar ao financiamento, há a necessidade de um Plano de Negócios, provando as condições de exportações nos próximos 12 meses.
Inscreveram-se 341 empresas -que se consideraram com capacidade para exportar. As solicitações superaram em dez vezes o montante de US$ 50 milhões alocados para o programa pelo Finep.
É uma amostra grátis, que revela o potencial do setor. Para deslanchar, o programa precisaria se transformar em prioridade de governo.
As EPCs gaúchas
O governo gaúcho encontrou uma maneira criativa de aproveitar as Empresas de Participação Comunitária (EPCs) sociedades municipais que juntam poupança para investimentos na própria cidade.
No Rio Grande do Sul, atualmente há 80 municípios com EPCs, perfazendo 12 mil pequenos investidores. O grande problema das EPCs, em geral, é a falta de alternativas factíveis de investimento.
Lá, o governo identificou os 113 municípios mais pobres e enviou técnicos para estudaralternativas econômicas que os viabilizassem. Em alguns casos, estufas para secar madeiras; em outros, fábricas de compotas.
Depois, reuniram-se com os prefeitos das cidades e apresentaram a seguinte proposta: se a cidade constituir sua própria EPC, disposta a investiralguma coisa no projeto, o Estado garante o aporte adicional de recursos.

Email: lnassif@uol.com.br

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