São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Nosso homem do campo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

As cenas dos últimos sem-terra chegando a Brasília, caminhando em beira de asfalto, jovens homens a maioria, também mulheres, crianças e velhos, no SBT, Globo e outras, tinham qualquer coisa de épico.
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Outro dia era o ministro da Política Fundiária, na Manchete, elogiando os "camponeses" -e não trabalhadores rurais, o que contraria FHC, que não aceita, tecnicamente, que sejam "camponeses".
Mas ontem era ele mesmo, FHC, no Palavra do Presidente, programa semanal de rádio, quem falava sem parar em "campo" (três vezes), ou ainda, "terra" (seis), "reforma agrária" (quatro), "sem-terra" (três).
Brasília, ao que parece, está de braços abertos aos sem-terra. Fala deles como companheiros, ainda que não chegue a tanto, no verbo.
Mas o sem-terra é tratado por "você", pelo presidente. Lembrado como "o nosso homem do campo".
"O nosso", não deles. Se não pode vencê-los, una-se.
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A UDR segue viva, mas nem tanto. Ontem a Globo dizia que a entidade, longe de Brasília, em Presidente Prudente, reunia-se com funcionários do Incra para informar-se do recadastramento de propriedades. Faz o que pode.
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Roberto Requião vai perdendo o palco da CPI, mas acostumou-se às câmeras. Quer as luzes, em qualquer teatro. Adiou viagem ao Paraguai para um ato de solidariedade, segundo a CBN:
- O dia da viagem é quinta à tarde porque Roberto Requião quer marchar com os sem-terra pela manhã.
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Demorou um pouco, mas o Jornal Nacional entrou ontem, com parte da terceira manchete, na tomada de Brasília pelos sem-terra.
Com algum alarmismo. Falando em fogo, em protestos. Até em agitação.

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