São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Supostos espiões são expulsos e execrados pelos sem-terra

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Três supostos agentes infiltrados da Polícia Militar foram expulsos ontem do acampamento que reúne 850 sem-terra das regiões Sul, Sudeste e da Bahia, montado desde anteontem na cidade-satélite do Gama (a 40 km de Brasília).
Eles negam ser informantes da polícia e disseram estar surpresos e chocados com a atitude do MST.
O anúncio da existência de policiais infiltrados -feito durante assembléia conduzida pelo líder José Rainha Jr.- provocou tumulto no acampamento.
Todos os sem-terra queriam ver os supostos policiais de perto. A segurança do acampamento teve de improvisar um cordão de isolamento humano para conduzir os acusados até um carro da PM que os aguardava fora do ginásio de esportes em que estão acampados.
O MST suspeitava da existência de espiões na marcha Sul-Sudeste e estava acompanhando o comportamento de Marisa, Pinheiro e Santana havia várias semanas.
A confirmação teria vindo há cinco dias, quando um bilhete assinado por Pinheiro foi encontrado em um livro de sua propriedade. No bilhete, com data de 8 de março e endereçado ao "comandante Jorginho", Pinheiro afirmaria estar a mais ou menos 20 km do ponto de montagem do acampamento e marca um encontro com o suposto comandante.
"Se não for possível que você vá até lá, deixe as coisas com a companheira Marisa ou com Santana", escreve Pinheiro, que assina como "soldado Elmo, em marcha".
Ele entrou na marcha em Campinas (SP) e dizia ser do movimento dos sem-teto. "Entramos em contato com os sem-teto e ninguém conhecia o tal Elmo", diz Edvar Lavratti, um dos coordenadores da marcha Sul-Sudeste.
Marisa se apresentou como ex-professora de filosofia da Unesp (Universidade do Estado de São Paulo) e simpatizante da MST.
Tanto Marisa quanto Pinheiro foram apresentados aos cerca de 800 sem-terra que assistiam à assembléia como "traidores". Eles foram submetidos a uma verdadeira execração pública.
Segundo ordem dada pela coordenação da marcha, eles subiram ao palco e foram vaiados e xingados por quase dois minutos.
Pinheiro e Marisa estavam nervosos e não quiseram comentar as acusações. Os dois foram levados à 14ª Delegacia de Polícia, onde prestaram depoimento e foram liberados porque não ficou comprovada ligações com a PM.

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