São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Presidência da CNBB não endossa críticas

LUIS HENRIQUE AMARAL
DO ENVIADO ESPECIAL A ITAICI (SP)

A presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) não endossou ontem a acusação de "corrupção" no processo de votação da emenda da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ela consta de documento de um órgão da entidade discutido em sua 35ª Assembléia Geral.
A discussão do documento, preparado pelo Ibrades (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social, ligado à CNBB), aconteceu sábado na assembléia.
Anteontem, a assessoria de imprensa da presidência divulgou nota afirmando que a acusação é "falsa, desabonadora para o Congresso e insultuosa ao governo".
Segundo d. Jayme Chemello, vice-presidente da CNBB, o documento "não é a visão da conferência, não corresponde à visão dos bispos". Quanto à acusação de corrupção na votação da emenda da reeleição, d. Chemello afirmou: "Eu não sei se houve corrupção, mas muita gente diz".
O bispo explicou que o documento era "apenas um subsídio" para fundamentar as discussões sobre a conjuntura brasileira durante o encontro.
Apesar de não endossar o documento, o vice-presidente da CNBB afirmou que ele servirá para fundamentar uma declaração oficial da entidade, que deverá ser divulgada hoje, sob o título "Vida com Dignidade e Participação".
O documento vai abordar os seguintes temas, propostos pelos bispos: neoliberalismo, massacre de trabalhadores sem terra, trabalho escravo e reforma agrária, entre outros. O pronunciamento será crítico ao governo FHC, mas sem acusações pesadas.
"A assessoria da Presidência contestou dados que foram tirados dos jornais, a CNBB não tem uma central de estatística própria", disse d. Chemello.
Os bispos da CNBB só ficaram sabendo da resposta ao documento do Ibrades pelos telejornais de segunda-feira à noite.
A presidência da entidade entrou em contato com a Casa Civil da Presidência da República, que passou a íntegra da nota por fax para d. Lucas Moreira Neves, que preside a CNBB.
D. Lucas, d. Chemello e o secretário-geral da entidade, d. Raimundo Damasceno, permaneceram em reunião até as 23h.
Na reunião, os três concluíram que o "próprio governo havia entendido que o documento não representava a palavra oficial da CNBB" e decidiram não redigir uma nota de resposta.
Polêmica
O documento intitulado "Análise da Conjuntura Socioeconômico-Política Brasileira", foi preparado pelo Ibrades (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social), órgão que pertence à CNBB.
O estudo acusa o governo de não cumprir as metas sociais prometidas na campanha eleitoral.
"O governo atual foi eleito defendendo um programa social: os cinco dedos da mão representavam a educação, a saúde, o emprego, a agricultura, a segurança. São exatamente estas áreas as quais o Estado menos tem investido nos últimos dois anos", diz.
(LHA)

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