São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997 |
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FHC aceita rever metas em troca de trégua com MST
VALDO CRUZ; LUCAS FIGUEIREDO
O presidente Fernando Henrique Cardoso está disposto a rever as metas de assentamento durante seu governo caso o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) aceite uma trégua. A proposta pode ser apresentada aos líderes da marcha dos sem-terra na sexta-feira, durante audiência no Palácio do Planalto. Para acertar uma trégua, o governo coloca uma exigência: o MST tem de paralisar as invasões de terra. Segundo a Folha apurou, o presidente só vai apresentar a proposta no encontro se os sem-terra demonstrarem interesse numa negociação realista. O presidente pode propor também a edição de uma medida provisória que acelere os assentamentos. Assessores do presidente comentavam ontem que não será possível negociar uma trégua se o MST fizer reivindicações inviáveis, como o assentamento de 1 milhão de famílias. O movimento já chegou a citar esse número. A meta do presidente é assentar durante os quatro anos de mandato 280 mil famílias sem-terra no país. Até agora, 104 mil famílias já teriam sido assentadas pelo governo tucano (o MST contesta os números oficiais). Na semana passada, FHC chegou a afirmar que o governo não tem mais recursos para aumentar o ritmo dos assentamentos. Afirmou ainda que, para aumentar o número, seria preciso mais impostos. Ontem, os sem-terra também já sinalizavam que estão dispostos a abrir um canal de negociação com o Palácio do Planalto, desde que o presidente não hostilize o MST. "Se o presidente disser desaforo, ouvirá desaforo. Se apresentar um canal aberto, haverá reciprocidade", disse ontem o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), advogado do MST e articulador da reaproximação com o governo. Lideranças do MST avaliaram que o governo havia cedido ao voltar atrás na decisão de não receber os sem-terra. Diante disso, decidiram também dar um gesto positivo ao Planalto, desistindo de pedir a demissão do ministro Raul Jungmann (Política Fundiária). A decisão de ceder na questão do pedido da demissão do ministro foi tomada anteontem em reunião de lideranças do movimento. A proposta foi articulada por Greenhalgh. "Não se tem de falar que se quer ou não se quer a cabeça do Jungmann. Esse assunto é de competência do presidente. Isso seria mediocrizar a marcha, tornando o problema da reforma agrária uma questão pessoal", disse. Greenhalgh avalia que o MST teve uma vitória ao conseguir que seus líderes fossem recebidos por Fernando Henrique. Segundo o deputado, os sem-terra deveriam aproveitar essa oportunidade e transformar o encontro em uma tentativa de negociar um cronograma de desapropriações. No encontro com o presidente, as lideranças do MST vão mostrar um levantamento que supostamente mostraria que o governo realizou menos desapropriações que as anunciadas oficialmente. Para isso, o MST realizou uma checagem dos números oficiais e das famílias efetivamente assentadas, o que não teria conferido. Texto Anterior: Citricultura parlamentar Próximo Texto: No rádio, presidente destaca ações Índice |
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